O crepúsculo dos deuses
O Crepúsculo dos deuses
Jorge Linhaça
"Lula é deus"...afirmou Marta Suplicy, que calada é uma poeta.
Poderia aqui discorrer sobre o assunto levando em conta apenas essa citação despropositada ou ato falho, no entanto prefiro ir mais longe a falar de um panteão de "deuses" da política brasileira que parecem estar caminhando, ou já caminharam para o seu crepúsculo.
Não sei se megalomania e egocentrismo acentuado são condições "sine qua non" ( espero que se escreva assim ) para fazer sucesso ( ou achar que se faz) na política partidária brasileira. O que é fato é que estamos cercados de megalômanos que se atribuem infinitas habilidades e acertos e negam qualquer erro cometido, por mais grotesco que tal erro seja.
Serra, Lula, FHC e Dirceu são exemplos claros disso, embora infelizmente não sejam os únicos. Poderíamos citar alguns já falecidos, mas como já se foram não podem mas nos fazer mal, é com os vivos que temos de nos preocupar.
Temos José Sarney, Michel Temer, Geraldo Alckminn, ACM neto ( que acha que é a reencarnação do avô), Renan Calheiros, Fernando Collor, Maluf e muitos outros, que sofrem desse complexo de deuses onipotentes, oniscientes e onipresentes. Quando enfurecidos jogam raios para todos os lados na esperança de que "entre raios e trovões" o povo fique cego e surdo às suas mentiras e desfaçatez.
FHC já mergulhou no ostracismo, vitimado pelo próprio partido, mas não perde a oportunidade de dizer que tudo de bom que aconteceu no Brasil foi graças a ele. Lula também apelou para o "nunca antes na história deste país"...para se auto promever com as conquistas supervalorizadas de sua gestão.
Serra segue o mesmo caminho, todos os grandes feitos da humanidade, desde as pirâmides do Egito até a Era da informática tiveram o seu dedo.
José Dirceu fez menos bravatas, é verdade, mas achou-se na condição de deus intocável tão logo foi elevado ao patamar de ministro.
Geraldo Alckminn, até agora contenta-se em ser fiel escudeiro de Serra , mas também sofre do mesmo complexo de perfeição. Acredito que esteja rindo á toa com as trapalhadas megalômanas de Serra, que se perder ( como tudo indica) as eleições paulistanas terá praticamente morrido politicamente.
Todos estes se julgam acima do bem e do mal, donos da verdade absoluta, incapazes de dividir os méritos com quem quer que seja. O poder cegou-os de tal maneira que sua visão não vai além dos próprios umbigos.
O crepúsculo político já esta mais perto de alguns que de outros, mas conforme a visão dos eleitores vai se aclararando, vão percebendo que não importa tanto no partido em que se vota e sim nas pessoas em que se vota.
Tiririca e Romário, por exemplo, foram parar na Câmara Federal desacreditados e chacoteados pela mídia e a população. Deram a resposta trabalhando sério nos últimos dois anos dentro da plataforma apresentada.
Se o PT mostrou-se igual ao PSDB, rendendo-se às tentações e vícios do poder, ao menos um legado diferente tem nos deixado. Nada é engavetado, tudo é investigado e não foram poucos os ministros e integrantes do alto escalão do governo exonerados por suspeitas sobre sua integridade.
Toda essa investigação sobre o mensalão, que afeta diretamente o PT , jamais aconteceria durante o governo tucano, estaria comodamente engavetada como tantos outros escândalos da era FHC.
Pode até não ser tanto mérito do PT, e sim demérito de parte da imprensa que insiste em fazer vistas grossas ao tucanato e investiga até a cor das cuecas que integrantes do governo petista usam em qualquer ocasião.
Claro que essa imprensa nos presta um bom serviço denunciando os escândalos do atual ou anterior governos petistas, mas nos prestariam um serviço ainda maior se "Pau que dá em Chico desse também em Francisco".
Infelizmente renderam-se ao partidarismo e não à democracia.
Quero aqui agradecer a todos os integrantes de comitês eleitorais, de vários partidos, que dedicam uma parte de seu tempo a ser minhas colocações.
Tenho percebido aqui e acolá algumas referências não explícitas às minhas idéias e colocações.
Para esclarecer, já fui tucano e já fui petista...mas o descaso com as bases e as opiniões da militância é bastante similar nas duas agremiações. No PT ao menos nos deixam falar, embora não escutem nada...ao fim ao cabo, é o mesmo grupinho que toma as decisões, igual ao PSDB.
Espero ansioso o crepúsculo dos caciques eleitorais, auto-proclamados deuses, direta ou indiretamente, para ver a democracia, enfim, ganhar seu espaço.
Salvador, 02 de outubro de 2012.