Confortável, Mas não Proveitoso
No mundo ocidental de hoje, dentre os países do Norte é inquestionável a preponderância de determinada nação. Que se reserva o direito de se admitir como a maior liderança democrática mundial. Tendo, portanto, a incumbência de poder dizer a todas as outras nações, não só do Ocidente como do mundo todo, o que pode ser melhor para elas. Se isto não é uma visão totalitária, então preciso aprender o que significa totalitarismo. Uma pérola desse tipo de atitude nos revela o seguinte enunciado na língua inglesa: “We want everyone to be free – free to act as we determine”. Cuja tradução pode ser: Desejamos que todo mundo seja livre – livre para agir da forma que determinarmos.
Parece uma piada, digna de ser incluída em qualquer programa humorístico. Você pode fazer tudo o que quiser, desde que esteja dentro do que “eu” prescrever. Tratam-se, portanto, de juízes que não podem ser contrariados. E qualquer tentativa de insurgência, pode ser interpretada como uma ameaça. É o que acontece com o enriquecimento de urânio reivindicado por certos países, ainda que sob a alegação de que não se destina a fins militares. Se os juízes do mundo não aprovarem, o programa deverá ser abandonado. Como deverá ser abandonada qualquer tentativa de independência econômica que inclua nacionalizações de firmas estrangeiras em atuação nos países subordinados às leis dos juízes do mundo. Que podem se sentir ameaçados em seus desígnios de manterem o controle de tudo.
É o que acontece com o infame embargo a que Cuba se acha submetida. Simplesmente por ter optado por uma condução diferenciada de seus problemas dentro da ilha. Por ter contrariado a ordem estabelecida, deve ser punida.
E qual a ameaça que pode Cuba oferecer à maior nação do Norte, a da maior liderança democrática mundial, de poder bélico infinitamente superior àquele país caribenho?
Não obstante, em países como o nosso há aqueles que não conseguem ou não desejam entender esse tipo de raciocínio. E saem por aí dizendo que Fidel Castro foi um ditador implacável, tornando-se riquíssimo em função do largo período à frente de Cuba; que Chaves não passa de um leão-de-chácara de gafieiras de segunda categoria; que Guevara foi apenas um tresloucado visionário; que Carlos Marighella notabilizou-se como um terrorista sanguinário e que não é seu o poema com o qual respondeu a uma questão de matemática... Preferindo tais pessoas estar alegre, mas não inocentemente, submetidas aos ditames dos juízes do mundo.
É realmente mais confortável, embora discutível se mais proveitoso.
Rio, 02/10/2012