Amarga vida

Laerte suspendeu o copo de cerveja e disse.

-A nossa vida boa. - Que mentira!Pensou.

Amadeu não repetiu o gesto, estava triste, havia dois dias tinha saído de casa e deixado a mulher e os dois filhos. Para uma pessoa religiosa como Amadeu, isso foi praticamente a morte.

-Que foi, parece que está no enterro,desculpa esqueci que você não gosta dessa palavra - Falou Laerte acabando com a cerveja que estava no copo de uma só vez. Os dois se conheceram quando ainda eram crianças, depois a amizade durou, ninguém sabe porque ,os dois eram muito diferentes. Laerte era extrovertido, gostava de cerveja e de bater papo no bar, Amadeu, só tomava água mineral, falava pouco,mas gostava da companhia de Laerte, as conversas, o debate entre criacionismo - Amadeu era adventista, Evolucionismo, Laerte era ateu, das brigas,um torcedor do flamengo(Laerte),outro Fluminense(Amadeu), além disso, ultimamente, os únicos trabalhos de eletricista que Amadeu conseguia fazer era para construtora de Laerte.

-Você sabe que eu não devia sair de casa, isso não foi uma atitude cristã.

-Não pensa nisso agora, toma a tua água - ele olhou para as mulheres no bar - olha a mulherada e esquece disso.

Amadeu não estava no clima, queria contar para Laerte o que estava acontecendo.

-Sua vida é muito é muito boa Laerte.

-Que nada.

-Vou contar o que aconteceu.

-Agora?

-Laerte, amigos são para isso,estou precisando desabafar, só tenho você de amigo - Laerte franziu a testa, ele sabia que as coisa em casa não estavam bem com Amadeu e Karla, os dois já haviam se separado uma vez, quando Laerte pegou a mulher vendo sacanagem no computador, depois teve uma polêmica sobre acessórios que ela queria usar na relação sexual, dessa vez era alguma merda dessa.

- Falou Amadeu, você tem razão, amigos é para essas coisas.

-É minha filha Helena, ela só tem quinze anos, quando cheguei em casa, no sábado, logo no sábado,dia sagrado, depois da igreja, umas onze horas, ela estava debaixo do lençol com um homem.

Laerte conhecia Kátia, um pouco avançada para idade.

-Até ai, nesse mundo de hoje - disse Laerte - parece normal.

-Normal coisa nenhuma, sabe o que o cara, um magrelo de barba, aparentando ser mais velho do que eu falou na minha cara?- Laerte fez que não com a cabeça mas ,secretamente, teve vontade de sorrir. - E ai sogro, desculpe o mau jeito, até levantava para te dá a mão ,mas tô pelado.

Laerte riu.

-Isso é sério Laerte, sua filha, única filha debaixo do lençol com um barbado? - Ele pegou o copo de água e bebeu todo - não deu outra, explodi com a Karla.

-Karla, que é isso, você está ficando louca?

-Para, para, para, se gritar eu vou a delegacia da mulher e te denuncio.

- Nossa filha está com um homem dentro do quarto, um barbado que parece mais velho que eu, você deixa uma coisa dessa?

-Amadeu, que mundo você está? Não se controla mais adolescente - Karla levantou a blusa da filha, ela tinha uma espécie de dragão tatuado nas costa - olha isso, eu disse para ela que quando você soubesse ia ficar danado.

Laerte fez um não com a cabeça.

Amadeu continuou.

-Karla me disse ontem que nosso filho, Gustavo está usando drogas.

-Maconha?

-Maconha.

-Isso é perigoso - disse Laerte achando o papo chato .

-Karla não acha, disse que é só fase, que ela também usou só que agora não curte mais. - Amadeu foi até o balcão e pegou uma bala de menta - ela disse que eu estou exagerando, que os dois estão bem na escola.

Amadeu olhou para o relógio -Tenho que ir.

-Vá com calma,acho que em parte Karla está certa,esses meninos de hoje são diferentes, ou sempre fomos assim,acho que fumei maconha, nem lembro,nem sei,não tem regra para o seu caso,apenas não se preocupe demais,viva a vida.

-Vou a igreja, espero que o pastor tenha as respostas,pois as minhas acabaram.

Amadeu saiu deixando Laerte pensando no própios problemas, na sua filha na oitava internação usando crack, como ele mesmo não conseguia deixar a cocaina.O seu problema economico, sua empresa está por um fio,a doença da sua mulher, mas não falaria nada disso ali.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 02/10/2012
Reeditado em 02/10/2012
Código do texto: T3911898
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