Erros médicos a terra encobre
O título é sugestivo.Você achou? Pensa que eu sou uma pessoa que vai reclamar tanto dos erros médicos, como da péssima formação médica. Errado, não vou reclamar dos erros médicos, certo: a formação médica é péssima, assim como está péssima a formação das outras profissões, até o lavador de carro não lava mais direito.
Do que você está falando?
Todo mundo quando faz uma análise de uma situação, deixa de lado a explosão populacional, frase como:
O país vai crescer economicamente.
Vamos construir mais Hospitais.
Vamos melhorar a saúde!
E várias outras que políticos falam na véspera de eleição, são mentiras que todo mundo quer ouvir e que ninguém, de fato, acredita.
O número de pessoas crescendo cada vez mais, tem fila até na escada rolante,fila para o pão, fila do pastel,fila do jornal, fila de banco, quando o povo chega no PS, acha que o atendimento tem que ser o mais rápido possível, não entende a lógica: lá já esta cheio, porque é mais rápido que os outros lugares, mais rápido que o consultório ,que os especialistas,etc... e se ficar mais vazio, atrai mais gente, isso vai ao infinito.
As pessoas estão carentes de atenção,ou por outro lado, procuram alguém para infernizar, neste caso, a conversa com um médico, ou infernizar o médico pode ser a solução momentânea para aquela tensão, aquela ansiedade. O hospital virou um lugar onde algumas pessoas encontram a proteção que procuram e não acham na sua casa, no seu trabalho,na escola,no asilo.
Na cabeça de muita gente para cada dor um remédio.
As escolas médicas, estão submetidas à regra do mercado, agora tudo é mercado,os magnatas da "educação" abrem uma escola de medicina em cada esquina, e para o estágio usam o SUS, afinal, o SUS é campo de estágio para os residentes, o pobre do paciente do SUS, que antes tinha os alunos restritos aos hospitais universitários, hoje encontra ele em todos os lugares.
Governos são empresas,quem liga para educação e saúde, onde você viu uma dessas coisas dá lucro? A função do governo agora não é organizar a sociedade, é dar lucro . Dessa forma, a produção em massa de médicos parecia ser a solução que resolveria o problema da saúde, mas não foi. Inclusive o problema piorou, só serviu para a remuneração médica cair abaixo do ridículo - dessa vez era o mercado ajudando o governo.
A maioria dos médicos, sem formação condizente com a profissão, procurou a medicina para emprego e salário fácil, qual o recém formado que ganha quatro mil reais? Que estupidez! Com dois dias de trabalho a coisa parece fácil, como carregar pedra, na cabeça, de tanga em pé em fio de náilon, escorregou a coisa pode ficar feia.
Fácil nada! Procure um recém formado que queira trabalhar nas chamadas "emergência" médica, no PSF, maior engodo,tão demagógico! Muito bom no papel - dizem por ai que o PSF funcionaria muito bem no céu, Deus prefeito e Jesus Cristo secretário de saúde. O PSF virou uma sangria de dinheiro fácil, passou a ser um canal para verbas federais da saúde chegarem ao município, e mais nada, procure. Não vai achar nada de bom nisso, pense que no papel, na teoria, o PSF, seria maravilhoso. Nada melhor que ter um médico de referência, o único médico, sem direito a ... divórcio?
Brasileiro não é assim, e se eu não combinar com o médico?
Se preferir uma médica, por causa do meu exame ginecológico?
Nas cidades pequenas o problema é maior. O vínculo empregatício do médico é mais podre do que o da minha empregada doméstica - "na boca pequena" é um vínculo "caixa dois", quando sai um prefeito muda tudo.
O mais importante nessa história é que antibiótico e remédios controlados, principalmente o para dormir e para ansiedade, os chamado ansiolíticos, são prescritos por vereadores e parentes de vereadores, prefeitos e pessoas importantes, se o médico não obedecer a ordem? "NÓIS TROCA ELE". Obviamente, depois de seis meses os médicos deixam de clinicar na cidade, ou porque não estão pagando, ou porque o prefeito pediu gentilmente a sua saída.
-OH doutor, tão falando muito mau do senhor - pronto acabou a amizade, o médico tem que arrumar a mudança novamente.
Sem fixar o médico no campo, de forma independente da prefeitura, como faz a justiça com promotores e defensores públicos, dificulta o trabalho dos médicos, torna fraca a sua situação perante as pessoas que têm o poder na cidade.
Concluindo, a função médica, nas regiões interioranas brasileiras, oscila de instável de um vínculo podre, ao médico "bonzinho" que vira prefeito!
O foco no doente e na doença não existe mais, voltamos a condição da medicina da sangria, agora é a sangria dos exames. Exame para tudo, o paciente, o médico, a atendente, o segurança só se satisfazem com uma quantidade quase infinita de exames.
O político oferece a consulta médica gratuita, e dá uma meia dúzia de remédios, oitenta por cento da saúde pública acaba nisso, quando o paciente precisa de neurologista, uma cama de hospital digna ou de uma tomografia. A resposta é : " só no ano que vem."
Será que é o médico sozinho que carrega a culpa pelos erros?
A pergunta que frequentemente um médico faz para o outro no PS é:
Quantos você atendeu?
Mais de vinte.
A vergonha! Vinte pessoas atendidas em um período de seis horas! Só isso, uma vez um disse "atendi 40 pessoas", isso é paranormalidade! Mesmo assim ficando um batalhão de pessoas para ser atendida depois. Uma conta rápida é feita na cabeça do paciente.
-Tem um pneumologista? - pergunta a senhora.
-Tem sim,daqui a duas semanas - responde a recepcionista.
-Assim eu vou morrer.
-A urgência é no PS senhora - diz a atendente.
Conta simples, seis horas esperando pelo clínico num PS lotado, ou duas semana esperando pelo pneumologista? A primeira opção ganha.
Mas pera aí, por que a pressa?
Todo o mundo de hoje tem pressa. A pressa pressiona o erro.
Entalado entre os planos de saúde e a doença, o médico tem que decidir como agir para se manter trabalhando, com o raio x e os exames de sangue salvando a pátria, o resultado é: antibiótico e três dias de atestado - médico simpático.
Antibiótico e declaração de comparecimento - médico antipático.
Pediatria:
Um dia de febre - antibiótico - médico simpático
Um dia de febre - não antibiótico, aguarde, que a doença deve ser viral - médico antipático
A senhora que tinha a tosse, lembra dela? Supostamente deveria ter marcado o pneumologista? Não fez isso, foi ao PS.
Duas semanas e, para a surpresa de todos, mesmo depois de quinhentos antibióticos, a tosse continua. Continua não, piorou!
-Gente estou ficando azul de tanto tossir na frente desses médicos e eles não me passam um antibiótico que preste? A saúde está um caos mesmo.
Com duas semana teria consultado com pneumologista, preferiu o caminho mais fácil, talvez não seja tão fácil assim. Já está na terceira consulta no PS. Os cientista recém formados já diagnosticaram nela, pelo menos, duas pneumonia e uma sinusite. Já tomou três antibióticos diferente e está estourando os quinze dias de licença do patrão, mais um dia e vai para INSS, teve um médico que deu logo dez dias de uma vez, para ver se a senhora não voltava tão cedo. O último médico que atendeu aquela senhora, era um médico novo, com cara de surfista, que acha que a tosse era uma invenção psicológica, mentira mesmo, que aquela senhora coitada, que trabalha como caixa de supermercado, e já é aposentada, mas a sua aposentadoria não dá para nada, só veio pegar um atestado. Ele sabia, mesmo com sua cara de surfista, era mentira a tosse dela.
- É tosse mesmo?
Claro - tossiu duas vezes.
Vou te internar. Não é possível, já tomou os melhores antibióticos.
Não obrigada.
A senhora, quando conseguiu ir ao pneumologista, fez uma broncoscopia, tinha um corpo estranho no pulmão, um fragmento de grão de arroz.
Se medicina fosse fácil...