Jovens, escrevei!
Certamente vivemos um tempo em que se escrevem poucas cartas. Falo da carta escrita a tinta, dobrada, colocada no envelope e enviada aos amigos, aos parentes, ao namorado, à namorada. Falo também dos pequenos bilhetes, dos lembretes que se deixavam à vista para quem chegasse. Falo mesmo da carta datilografada, que hoje já não se usa porque o instrumento que a produzia virou peça de antiquário. Falo dos bilhetinhos que os namorados trocavam e que, quando guardados, resgatariam anos depois fatias dos enredos de amor. Falo dos cartões de Natal, tantas vezes preenchidos com dizeres especiais e que enchiam nossas caixas de correio nos finais de ano. Falo de todas essas oportunidades em que nos expúnhamos com nossas letras, que tentávamos caprichar para deixar a melhor das impressões. Hoje não se escreve, hoje não se datilografa, hoje se digita no computador e no celular. Hoje se mandam mensagens eletrônicas; só mesmo uma pequena parcela, mais refratária a esses modernismos, ainda saca da caneta para deixar um bilhete.
A juventude afiada com essas máquinas que o confirme para todos nós. Nos shoppings, nas escolas, nas ruas é que vemos a garotada nos notebooks ou em celulares digitando, digitando muito, fazendo muitas tarefas ao mesmo tempo. Nas ruas caminhando, fone no ouvido, celular na mão, bate-papo com o amigo ao lado e, simultaneamente, conversa ao celular em toques de teclas. Ali, rapidamente, vão eles marcando encontros,desfazendo namoros, errando ou acertando em decisões, agendando sua vida rápida e moderna. Ah! eles certamente que não saberiam viver sem esses fantásticos benefícios da civilização, a que nós, mais velhos, sempre com certo sacrifício, vamos também nos adaptando.
Até onde tenho lido, consta que, nestes tempos de internet, a juventude tem lido mais; falo de livros impressos, contrariando os pessimistas que achavam que justamente ela, a internet, destruiria os livros. A notícia é boa, é alentadora, pois, se há leitores, terá de haver quem lhes escreva, até alguém como este escrevedor que vez ou outra deixa alguma ideia no papel ou na tela e divide com os amigos. Que os jovens escrevem mais, dúvidas eu não tinha... Praticamente eles passam o dia em contato permanente com teclas e telas.
Fico pensando que a escola precisa tirar vantagem disso e conectar essa naturalidade da escrita mais relaxada do cotidiano com a necessidade de uma escrita mais caprichada em muitas outras situações da vida... O potencial já existe; tudo é uma questão de aperfeiçoar uma prática, que a garotada já está exercitando muito cedo...
Fico também pensando que é preciso entregar o lápis e a caneta para garotada e incentivá-los a registrar suas histórias também em textos de próprio punho. A namorada, romântica e apaixonada, não ficaria mais feliz em receber, de vez em quando, um cartãozinho carinhoso que estampasse com letrinha benfeita o sentimento de seu parceiro? Nossas cartas são nossa história... E bem guardadas elas nos contam no futuro. Muito melhor, certamente, que os chips que se perdem, se estragam ou, com a evolução, costumam não se adaptar aos aparelhos novos.
Como relembrarão as suas histórias, seus amores, suas aventuras, suas esperanças, esses jovens que – lá na frente – certamente estarão usando outros aparelhos que não serão capazes de ler os arquivos antigos? E mesmo que resguardem essas peças de museu que hoje usamos, onde estarão suas letras, pedaços de suas almas? Jovens, escrevei!...