PELAS CALÇADAS DO SEMPRE...

EM HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

Era uma recém chegada manhã de sol e na pracinha da pequena cidade, logo em frente ao coreto ao lado da igreja, bem vagarosamente ela passou por mim.

O mar, bem lá na frente, ainda quebrava suas ondas agitadas no paredão de pedras.

Não demorou a se perceber que ela andava a pequenos passos, num esforço que explicitava sua extrema dificuldade de movimentos para carregar um peso que com certeza excedia o seu, possivelmente em decorrência da sua já bem avançada idade, todavia, ainda trazia nas mãos bem trêmulas uma bandeirola que caprichosamente hasteou ao lado da sua cadeira de metal dobrável, aonde logo se sentou cuidadosamente depois de armá-la na calçada.

Aquele seu trabalho algo metódico me deixou a impressão que era feito com certa repetição pelo tempo, tamanho era o seu aspecto de felicidade por ainda poder estar por ali...a tremular sua esperança.

Foi quando dela me aproximei com certa curiosidade, acredito que deixando que meus olhos lhe falassem por mim.

Assim, antes que eu pudesse lhe dizer qualquer palavra ela me sorriu a me direcionar o olhar à colorida bandeirola da sua luta partidária:

"As eleições estão aí, esse é o candidato do meu partido, sabe, sempre temos que acreditar em mudanças positivas, eu não desisto nunca, toda eleição eu estou por aqui!".

De fato ela estava bem certa: " mudanças positivas"-fiquei a pensar...

A despeito de todos os tempos, inclusive destes mais recentes tempos sempre algo atemporais quando o objetivo é esperança política, temos que acreditar que um dia os ventos mudem as direções a tremular as bandeiras da verdadeira cidadania, a comprometida com o todo social, aquela mesma cidadania que ela, através das suas mãos senis, ali tão brava e esperançosamente tremulava ao vento que ainda soprava forte pelo seu já tão cansado chão daquela mesma calçada do sempre.

Nota: verídico.