Vininha

Dedos cruzados atrás das costas! Superstição, tique nervoso, ou... “Juro que é verdade, mãe!” Vininha aprendeu a jurar com dedos cruzados, ainda não sabe muito bem o significado do que faz. Filha mais nova de uma trela de oito irmãos é a que mais apanha... Tudo de ruim que acontece. “Foi a Vininha, mãe!”

“Vininha! Venha aqui, já! Como você conseguiu quebrar a garrafa térmica?!” Dedos cruzados atrás das costas!“Juro que não fui eu, mãe. Não tomo café!”

Reunião de pais na escola. Roda de cadeirinha! Mães sentadas! Professora mostra os trabalhos. Coleção de desenhos feita pelos alunos.

Cada responsável pegava os trabalhos... escutava a professora contar um pouco sobre a situação do aluno no dia-a-dia escolar.

“A criança na escola ou fora dela procura sempre encontrar uma maneira de deixar no papel, ou, em qualquer outro espaço, o registro de seus gestos.

Vininha ficou por último. Sua coleção de desenhos primava pelo colorido de alguns personagens. Caprichosa! A menina sabe representar nitidamente, o real! Relações culturais, sociais, familiares podem ser reconhecidas nos seus desenhos.

“Mãe, perceba os desenhos da Vininha, olhe um por um... fique atenta ao que ela quer nos dizer.”

Dois desenhos em um! Arvoredo, crianças brincando no quintal. Meninos jogando bola... meninas de dona de casa. Movimentos de traços formam outro desenho! O brincar deu lugar à explosão de raiva no rosto das crianças... No meio de tudo, a menor tem os dedos cruzados atrás das costas. “Vininha!”

Quase uma dezena de desenhos depois, lá estava ela, sempre! Mudava a cor do vestido, o cenário, os personagens, mas, ela e os dedos cruzados atrás das costas persistiram em todos os desenhos. A reunião acaba e a mãe da Vininha vai embora pensativa.

“Vininha! Venha cá!”

A menina chega perto da mãe com os olhos assustados. Como uma menina de quatro anos de idade soube tão bem interagir nos desenhos o seu maior problema. A mãe segurou em suas mãos, beijo-as. Lágrimas escorriam dos olhos da mãe. “Vininha, a mamãe te ama muito... seus irmãos, também.”

A conversa da mãe, com a filha foi em frente de todos os membros da família. Mudanças comportamentais a vista. Vininha não iria precisar cruzar mais os dedos nas costas!