A Ministra e o Escritor

   A Ministra. Aplaudo, neste primeiro tópico, a Ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, pelas suas declarações em defesa do exercício sadio, sério e ético da política, depois de condenar "mensaleiros" denunciados na Ação Penal 470, em julgamento na mais alta Corte de Justiça do país. 
   Disse a Ministra, com a responsabilidade que lhe confere a toga de magistrada: "Eu não gostaria, a dez dias de uma eleição, que os jovens, principalmente, desacreditassem da política."
   Acrescentando, no seu histórico pronunciamento, que "o fato de se julgar no processo pessoas que contrariam a lei não significa que a política seja necessariamente ou sempre corrupta."
   Portanto, meu caro eleitor, jovem e velho, ao entrar, daqui a pouco, na cabine indevassável, faça-o lembrado do que disse a Ministra Carmem Lúcia, no momento presidindo o Superior Tribunal Eleitoral. 
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   O  Escritor. Olha, quando estive, há alguns meses, não muitos, em São Luís do Maranhão, por isso mais aquilo, não visitei a Casa de Cultura Josué Montello. Lamento até a presente data.
   É indisfarçável minha admiração pelos escritores e poetas maranhenses - Coelho Neto, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Humberto de Campos, Catulo da Paixão Cearense - e, também,  Josué Montello.
   Em muitas de minhas crônicas cito Montello, transcrevendo ou recordando trechos e pensamentos que colhi nos seus escritos.
    Montello escreveu textos leves, porém, de reconhecida erudição. Deu aos seus livros uma singular redação protegida pelo melhor vernáculo. Aprende-se muito lendo o autor de A mulher proibida.
   Há pouco mais de um mês, reli O baile da despedida que, como todos sabem, foi a última festa do Império. Dias depois, caía Dom Pedro. É a história romanceada, mas guardando a substância e a veracidade do acontecido.
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   Hoje, voltei ao Anedotário Geral da Academia Brasileira de Letras. Nesse livro, Josué Montello conta, em textos simples, "historietas relativas aos fundadores da Casa de Machado de Assis" e de outros acadêmicos.
   Neste fim de semana, queria dividir com meus leitores alguns causos que, nesse interessante livro, Montello "me conta", com a limpidez de sua pena. E não percamos tempo.
   Olavo Bilac (1865-1918). "Para o prefeito que não parece dar atenção às ruas do Rio de Janeiro, onde enxameiam os buracos - conta Montello - o poeta redige este epitáfio:

          Às queixas não deu cavaco,
          Do povo sempre zombou;
          Dorme agora num buraco
          Das ruas que não calçou."

     "Secretário do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Olavo Bilac soube conciliar muitas vezes, o estilo burocrático com a fluência poética redigindo em versos o expediente da repartição.

          Niterói, 10 de janeiro,
          Saúde e fraternidade.
          Demita-se o tesoureiro
          Por falta de assiduidade.

          E lavre-se a portaria,
          O decreto ou o alvará,
          Que entrega a Tesouraria
          Ao poeta Luís Murat.

   "De outra feita, num requerimento da Professora Ana Maldonado pedindo licença de três meses para tratamento de saúde, exarou Bilac este despacho:

          Se dona Ana Maldonado
          For uma bela mulher,
          Tenha o dobro de ordenado
          E o tempo que requer.

          Mas se for velha e metida,
          O que se chama um canhão,
          Seja logo demitida
          Sem maior contemplação.

   Do poeta Laurindo Rabelo (1826-1864) Montello conta esta:
          "No seu leito de agonia, vendo a esposa em prantos, Laurindo prendeu-lhe as mãos, num gesto afetivo.
          E erguendo para ela os olhos tristes: - É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre.
          E expirou pouco depois."
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   Vou concluir dizendo: esta minha crônica, reconheço, não é lá essa coisa toda. Como, aliás, é a maioria das que, até aqui, arrisquei-me a escrever.
   Mas meu dileto leitor, lendo-a você sorriu. E não acompanhou pelos jornais, rádio e televisão o último assalto que tingiu de sangue a rua do seu bairro.



    

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/09/2012
Reeditado em 30/09/2012
Código do texto: T3908794
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