A Ministra e o Escritor
A Ministra. Aplaudo, neste primeiro tópico, a Ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, pelas suas declarações em defesa do exercício sadio, sério e ético da política, depois de condenar "mensaleiros" denunciados na Ação Penal 470, em julgamento na mais alta Corte de Justiça do país.
Disse a Ministra, com a responsabilidade que lhe confere a toga de magistrada: "Eu não gostaria, a dez dias de uma eleição, que os jovens, principalmente, desacreditassem da política."
Acrescentando, no seu histórico pronunciamento, que "o fato de se julgar no processo pessoas que contrariam a lei não significa que a política seja necessariamente ou sempre corrupta."
Portanto, meu caro eleitor, jovem e velho, ao entrar, daqui a pouco, na cabine indevassável, faça-o lembrado do que disse a Ministra Carmem Lúcia, no momento presidindo o Superior Tribunal Eleitoral.
*** ***
O Escritor. Olha, quando estive, há alguns meses, não muitos, em São Luís do Maranhão, por isso mais aquilo, não visitei a Casa de Cultura Josué Montello. Lamento até a presente data.
É indisfarçável minha admiração pelos escritores e poetas maranhenses - Coelho Neto, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Humberto de Campos, Catulo da Paixão Cearense - e, também, Josué Montello.
Em muitas de minhas crônicas cito Montello, transcrevendo ou recordando trechos e pensamentos que colhi nos seus escritos.
Montello escreveu textos leves, porém, de reconhecida erudição. Deu aos seus livros uma singular redação protegida pelo melhor vernáculo. Aprende-se muito lendo o autor de A mulher proibida.
Há pouco mais de um mês, reli O baile da despedida que, como todos sabem, foi a última festa do Império. Dias depois, caía Dom Pedro. É a história romanceada, mas guardando a substância e a veracidade do acontecido.
*** ***
Hoje, voltei ao Anedotário Geral da Academia Brasileira de Letras. Nesse livro, Josué Montello conta, em textos simples, "historietas relativas aos fundadores da Casa de Machado de Assis" e de outros acadêmicos.
Neste fim de semana, queria dividir com meus leitores alguns causos que, nesse interessante livro, Montello "me conta", com a limpidez de sua pena. E não percamos tempo.
Olavo Bilac (1865-1918). "Para o prefeito que não parece dar atenção às ruas do Rio de Janeiro, onde enxameiam os buracos - conta Montello - o poeta redige este epitáfio:
Às queixas não deu cavaco,
Do povo sempre zombou;
Dorme agora num buraco
Das ruas que não calçou."
"Secretário do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Olavo Bilac soube conciliar muitas vezes, o estilo burocrático com a fluência poética redigindo em versos o expediente da repartição.
Niterói, 10 de janeiro,
Saúde e fraternidade.
Demita-se o tesoureiro
Por falta de assiduidade.
E lavre-se a portaria,
O decreto ou o alvará,
Que entrega a Tesouraria
Ao poeta Luís Murat.
"De outra feita, num requerimento da Professora Ana Maldonado pedindo licença de três meses para tratamento de saúde, exarou Bilac este despacho:
Se dona Ana Maldonado
For uma bela mulher,
Tenha o dobro de ordenado
E o tempo que requer.
Mas se for velha e metida,
O que se chama um canhão,
Seja logo demitida
Sem maior contemplação.
Do poeta Laurindo Rabelo (1826-1864) Montello conta esta:
"No seu leito de agonia, vendo a esposa em prantos, Laurindo prendeu-lhe as mãos, num gesto afetivo.
E erguendo para ela os olhos tristes: - É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre.
E expirou pouco depois."
*** ***
Vou concluir dizendo: esta minha crônica, reconheço, não é lá essa coisa toda. Como, aliás, é a maioria das que, até aqui, arrisquei-me a escrever.
Mas meu dileto leitor, lendo-a você sorriu. E não acompanhou pelos jornais, rádio e televisão o último assalto que tingiu de sangue a rua do seu bairro.
A Ministra. Aplaudo, neste primeiro tópico, a Ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, pelas suas declarações em defesa do exercício sadio, sério e ético da política, depois de condenar "mensaleiros" denunciados na Ação Penal 470, em julgamento na mais alta Corte de Justiça do país.
Disse a Ministra, com a responsabilidade que lhe confere a toga de magistrada: "Eu não gostaria, a dez dias de uma eleição, que os jovens, principalmente, desacreditassem da política."
Acrescentando, no seu histórico pronunciamento, que "o fato de se julgar no processo pessoas que contrariam a lei não significa que a política seja necessariamente ou sempre corrupta."
Portanto, meu caro eleitor, jovem e velho, ao entrar, daqui a pouco, na cabine indevassável, faça-o lembrado do que disse a Ministra Carmem Lúcia, no momento presidindo o Superior Tribunal Eleitoral.
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O Escritor. Olha, quando estive, há alguns meses, não muitos, em São Luís do Maranhão, por isso mais aquilo, não visitei a Casa de Cultura Josué Montello. Lamento até a presente data.
É indisfarçável minha admiração pelos escritores e poetas maranhenses - Coelho Neto, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Humberto de Campos, Catulo da Paixão Cearense - e, também, Josué Montello.
Em muitas de minhas crônicas cito Montello, transcrevendo ou recordando trechos e pensamentos que colhi nos seus escritos.
Montello escreveu textos leves, porém, de reconhecida erudição. Deu aos seus livros uma singular redação protegida pelo melhor vernáculo. Aprende-se muito lendo o autor de A mulher proibida.
Há pouco mais de um mês, reli O baile da despedida que, como todos sabem, foi a última festa do Império. Dias depois, caía Dom Pedro. É a história romanceada, mas guardando a substância e a veracidade do acontecido.
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Hoje, voltei ao Anedotário Geral da Academia Brasileira de Letras. Nesse livro, Josué Montello conta, em textos simples, "historietas relativas aos fundadores da Casa de Machado de Assis" e de outros acadêmicos.
Neste fim de semana, queria dividir com meus leitores alguns causos que, nesse interessante livro, Montello "me conta", com a limpidez de sua pena. E não percamos tempo.
Olavo Bilac (1865-1918). "Para o prefeito que não parece dar atenção às ruas do Rio de Janeiro, onde enxameiam os buracos - conta Montello - o poeta redige este epitáfio:
Às queixas não deu cavaco,
Do povo sempre zombou;
Dorme agora num buraco
Das ruas que não calçou."
"Secretário do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Olavo Bilac soube conciliar muitas vezes, o estilo burocrático com a fluência poética redigindo em versos o expediente da repartição.
Niterói, 10 de janeiro,
Saúde e fraternidade.
Demita-se o tesoureiro
Por falta de assiduidade.
E lavre-se a portaria,
O decreto ou o alvará,
Que entrega a Tesouraria
Ao poeta Luís Murat.
"De outra feita, num requerimento da Professora Ana Maldonado pedindo licença de três meses para tratamento de saúde, exarou Bilac este despacho:
Se dona Ana Maldonado
For uma bela mulher,
Tenha o dobro de ordenado
E o tempo que requer.
Mas se for velha e metida,
O que se chama um canhão,
Seja logo demitida
Sem maior contemplação.
Do poeta Laurindo Rabelo (1826-1864) Montello conta esta:
"No seu leito de agonia, vendo a esposa em prantos, Laurindo prendeu-lhe as mãos, num gesto afetivo.
E erguendo para ela os olhos tristes: - É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre.
E expirou pouco depois."
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Vou concluir dizendo: esta minha crônica, reconheço, não é lá essa coisa toda. Como, aliás, é a maioria das que, até aqui, arrisquei-me a escrever.
Mas meu dileto leitor, lendo-a você sorriu. E não acompanhou pelos jornais, rádio e televisão o último assalto que tingiu de sangue a rua do seu bairro.