AS FILHAS ADOTIVAS
Meu lar está enriquecido com duas novas filhas.
De há muito já falei que tenho predileção especial por árvores
frutíferas. Isso devido à minha infância, pois, onde nasci, minha casa
possuía um pomar com todas as frutas que se possa imaginar. Claro
que aquelas comuns em nossa região, como laranja, mixirica, pêra,
ameixas amarela (nêspera) e vermelha, abacate, jabuticaba, goiaba,
pêssego, banana, romã, uva, e alguma outra que possa ter
esquecido. Uma pequena chácara. Era meu paraíso. Portanto, não é
difícil imaginar ou justificar essa minha queda pelas frutíferas. Aliás,
se fosse eu a autoridade que tivesse a competência para arborizar a
cidade, sem dúvida, daria significativa prioridade a elas.
Já me referi, também, que um de meus filhos, havia plantado na
sacada de seu apartamento, uma jabuticabeira e uma pitangueira,
ambas produzindo, normalmente, seus frutos. Aliás, a jabuticabeira,
se regada devidamente, frutifica mais de uma vez no ano.
Pois, então, copiei o filho.
Engraçado, parece mesmo ser eu um pai novo, que toda vez ao
chegar em casa, seja no almoço, seja à tarde, sempre vou até a
sacada para ver minhas filhas, se estão se adaptando ao local, se
precisam de água, se estão respirando, ou qualquer outra novidade.
Também, arrumei uma para minha cabeça. Agora, se for viajar, vou
ter que arrumar alguém, para cuidar das bebês, verificar a água. É
como se fosse um animal doméstico. Com certeza, arrumei um capitis
diminutio.
Como também, doravante tenho um local agreste para minhas
leituras, em companhia de tão agradáveis criaturas. Até rimou. Mas,
que minha mulher não nos ouça! Ela tem verdadeiro pavor por toda e
qualquer espécie de ave. E, os passarinhos já estão aparecendo, pois
encontrei pitangas (vieram algumas), todas bicadas.
A jabuticabeira, quando chegou, trazia, igualmente, algumas frutas
um tanto maduras, as quais, depois de alguns dias, estavam
pretinhas, em condições de serem aproveitadas. Colhi-as e
experimentei algumas delas. Un zucchero, de tão doce.
A quem conto essa minha, vamos dizer, esquisitice, logo vem o
interlocutor com aquela velha história das condições para o homem
se tornar realizado: ser pai, plantar uma árvore e escrever um livro.
Que novidade!
- Falta, agora, escrever o livro, diz ele. Detesto essa ausência de
criatividade!
Hoje, quem desce a rua Monte Casseros, vindo da Oliveira Lima,
poderá notar, no terceiro andar (o quinto se contados os dois de
garagem) do edifício Mônica, minha sacada transformada em pomar,
com as duas meninas, uma de cada lado, como que fazendo papel de
rainha e princesa, dando boas vindas, ao Primeiro Festival de Frutas
do JBLima.
Já ouvi dizer que o sacolão da CRAISA - Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André -, está preocupado com a
concorrência.
Baixou o preço! Nem tinha me ocorrido isso!Numa época de crise!!!