As heranças do meu filho

Eu não herdei da minha mãe o bom gosto natural e sem esforço, não herdei os olhos verdes, mas herdei a risada aberta, herdei o hábito de andar de taxi, herdei o exagero.

Depois que tive meu filho passei a me preocupar com as heranças que deixaria para ele, mas não era só dinheiro que me preocupava, era principalmente a herança emocional.

Fiquei angustiada e um pouco nervosa quando eu percebi a herança genética que eu já havia deixado. Percebi um pouco de mim no seu jeito estabanado, introspectivo, teimoso e no seu hábito de viajar para o espaço sideral toda vez que tinha uma ideia.

Como poderia ensinar coisas com as quais eu não sabia lidar bem? Eu quis tomar essas características de volta.Descobri que o caminho não era tomar de volta. O caminho era aceitar suas diferenças semelhantes.

Então, enquanto muitos pais dedicam suas vidas para deixar para seus filhos um patrimônio material como: carro, casa, apartamentos, fazendas. Eu dedico o meu trabalho, meu dinheiro, meu esforço para não deixar medo, raiva, dor, maus exemplos e frustrações.

Para alcançar tal proeza eu enfrentei o medo de ser julgada e fui fazer terapia, para isso eu cutuquei e cutuco feridas antigas, para isso eu tive que recolher vários sentimentos que ficaram no meio do caminho.

Meu filho não precisa ser solidário aos meus erros e nem escravo dos meus acertos. Ele não precisa seguir meus passos ele pode continuar de onde eu parei. Ele pode ser feliz antes, mais completo antes, mais maduro antes, pode se dar ao luxo de errar menos, de empacar menos, de amar mais, de viver melhor.