Sem tempo para o ensino médio
De acordo com um recente estudo, o número de jovens entre 15 e 17 anos que abandonaram as salas de aula aumentou. Este fato demonstra que a idealização concebida pelo governo para manter os alunos na escola pública é equivocada e ineficiente. Isto não é de hoje. As políticas para inclusão de jovens no sistema educacional fracassam mandato após mandato. Contudo, será que apenas o governo é o único responsável pela evasão escolar?
É fato que esta evasão escolar se deve, em grande parte, à necessidade dos jovens de fazerem parte da cadeia assalariada para ajudar na sobrevivência de suas famílias, não havendo tempo para estudar. Ligado à luta pela sobrevivência está a apologia ao dinheiro fácil e sem esforço propagada pelo tráfico. Os traficantes recrutam seus soldados nas portas das escolas com a promessa do enriquecimento rápido, sem grandes esforços e prazer. Pra que se matar de estudar se é possível ganhar a maior grana rapidamente? A esfera pública deveria cuidar do social, afim de diminuir a discrepância entre as classes sociais e combater a criminalidade. Mas será que somente o governo tem a culpa de todas as mazelas?
Bem... Não se deseja colocar panos quentes na incúria dos gestores públicos. Contudo, a sociedade como um todo, o que tem feito? Esta vive atrelada a biótipos e estereótipos: padrões de beleza; corpo perfeito; grifes... A famigerada “boa aparência” – vale ressaltar que os melhores falsários a possuem – domina o comportamento das pessoas. Mas, não há tempo para ginástica. Faz-se uma lipo! Tem-se pressa (feios e pobres estão fora).
O desejo de se tornar uma celebridade move montanhas. Fazer parte do Big Brother e ganhar milhões, a qualquer preço, em cerca de quatro meses, é mais importante do que manter a decência e o caráter. Cinco minutos de fama, não importando o que se tenha de fazer e por mais grotesco que seja, valem mais do que um diploma universitário. É preciso ficar famoso! O povo adora ver baixaria e o sofrimento alheio. Basta observar o que passa nos telejornais. O importante não é o teor da notícia, mas sim o ibope que ela renderá.
Não poderíamos terminar sem mencionar o emprego dos sonhos. Tornar-se político! Têm-se verbas para combustível, água, luz, telefone, almoço com a(o) amante, para a comida do gato ou do cachorro; emprego para os tios, padrinhos, sobrinhos, jardineiro, colegas de botequim; fórum privilegiado se assassinar alguém; imunidade, se for pego roubando a verba da educação; e o mais legal, dois mandatos consecutivos e aposentadoria garantida. Oito aninhos... Que beleza, héim! Enquanto o resto dos mortais tem que trabalhar 30 anos para mulheres e 35 anos para homens, ou esperar sobreviver até os 60 e 65 anos respectivamente, eles não têm tempo para esperar. Muitos dos que estão lendo estas linhas também. Deseja-se ser grande e de forma rápida; não se gasta tempo para ser médio!
Antonio Deodato M. Leão – 23 de Setembro 2012