O Vício da Esperança
O Vício da Esperança
Há coisas que viciam tanto quanto uma droga.
Há coisas que viciam e, no final, são mesmo uma droga!
Há um conhecido ditado que diz que “ errar é humano; repetir o erro é burrice.”
Sei não... Penso que a culpa de erros reincidentes é da tal da esperança...
Esperança de que desta vez seja diferente (e pra melhor);
Esperança de que desta vez dê certo:
Desta vez, o patrão, o amigo, o vizinho, o parceiro será radicalmente diferente do anterior, que nos foi motivo de tristezas e decepções.
Esperança que nos faz dizer pro espelho: “desta vez eu soube escolher, não vou me arrepender!”
Acontece que o tempo passa rápido e a gente descobre que patrão é sempre “o patrão” e quando menos a gente espera, ele nos inferioriza e não nos dá o justo valor.
O amigo novo, é apenas mais um ser humano e nós não seremos prioridade para ele.
O vizinho que chegou recentemente à casa ao lado, todo simpático, prestativo e educado, logo vai dar uma “festinha” com direito a Karaoquê e tudo e vai se esquecer de que você precisa ou deseja dormir.
O novo namorado não tem aqueles “defeitos” do anterior, mas tem um monte de outros “defeitos” que nos trarão, inevitavelmente, choro e decepção.
Por quê? Por culpa dele? Não! Por culpa da demasiada esperança que investimos naquele novo relacionamento. E é ai que a gente descobre que trocar de parceiro é apenas trocar de “defeitos”...
E nós choramos, nos sentimos incapazes de atrair alguém “bom”; nos sentimos burras, injustiçadas e até azaradas!
Isso dura um tempo. É como se ficássemos “de molho”. Mas, para auxiliar ou atrapalhar, renasce a bendita esperança!
E nós nos permitimos encharcar daquelas frases de sites de pensamentos do Google, nos dizendo que “devemos arriscar e confiar porque algo ou alguém maravilhoso está para acontecer em nossas vidas!” ou “invista de cabeça nos seus sonhos (ouçam: SO-NHOS!), pois o universo conspira a seu favor!” e por ai vai...
E lá vamos nós correnteza abaixo , rumo ao mar dos sonhos. Até relembrarmos o quanto a queda dói e dói na alma.
Não faço aqui apologia à desesperança; não sou uma frustrada escrevendo pra fazer uma catarse. Não. Não mesmo!
Só gostaria de lembrar, principalmente a nós, mulheres, que não podemos morar eternamente na Terra do Nunca e que crescer significa aprender a avaliar com realismo e não só com emoção e esperança.
Não existe o excelente patrão, o amigo infalível, o vizinho maravilhoso e, muito menos, o homem dos seus sonhos! Por Deus! Vamos ouvir o que estamos dizendo: “homem dos sonhos”!
Amiga, o homem dos seus sonhos mora lá na fase REM do seu sono.
Eu sinto muito, muito mesmo, por mim, por você e por todas que tiveram uma overdose de esperança, apostaram todas as fichas e perderam o jogo, novamente. Você e eu não somos burras, só esperançosas demais.
“Não se decepcione com as pessoas, decepcione-se com você por ter acreditado nelas”, disse alguém. Honestamente, não gosto de radicalismos de nenhum tipo, portanto, acredito sim que há pessoas confiáveis, sensíveis à dor alheia, parceiras de caminhada. Estas são presentes divinos em nossas vidas e devemos honrá-las como merecem, mas além de serem poucas, nenhuma delas é perfeita e, por vezes , podemos nos magoar com elas e magoá-las, como expressão de nossas imperfeições: estejamos preparados para isto.
No que diz respeito ao vício da esperança, é urgente a auto correção! Precisamos aprender a nos proteger e a depositar esperança em todo o NOSSO potencial e não naquilo que o outro possa nos dar porque será, no máximo, um empréstimo de felicidade. E tudo que nos é emprestado, um dia é cobrado de volta. Somos humanos e falíveis então, mais cedo ou mais tarde, de modo mais ou menos contundente, quem você menos espera, vai te magoar.
Então, espere não esperando. Não cultive uma esperança insana, mas com os pés bem plantados no chão.
Esperança total, só em Deus. No que tange ao nosso semelhante, esperança demais, é delírio.
(Andreia Jacomelli)