Ressaca
Abro os olhos com extrema dificuldade devido a dor de cabeça pulsante que sinto. Olho em direção ao rádio relógio e me surpreendo com o horário: 3 da tarde. Sentado na cama tento relembrar o que aconteceu na última noite. São vários flashes perdidos em minha mente. Dor de cabeça de novo. Ressaca. Lembro de uma garrafa de tequila quase no final.
Levanto-me e caminho até o banheiro. Enquanto lavo o rosto escuto um barulho na cozinha. Caminho, ainda meio trôpego, até lá. E o que vejo trata de confundir minha cabeça de vez. Uma morena maravilhosa, vestindo apenas uma camiseta minha, está ao fogão fazendo panquecas. O que diabos aquela deusa seminua fazia em meu apartamento? Maldita hora para ter uma amnésia alcoólica. Recobro minha consciência quando vejo que a morena procura algo nos armários mais altos, e a camiseta subindo revela meu bom gosto (e, modéstia a parte, talento) para escolher mulheres.
De súbito, a morena percebe minha presença:
- Está aí me espionando é?
Respondi apenas com um sorriso sem graça, pois fiquei com medo de tentar dizer algo e parecer mais idiota ainda do que meu rosto já aparentava.
- Aproveite para repor as energias – disse a gata misteriosa, com um sorriso mais do que safado, enquanto me servia uma panqueca.
Meu Deus, as panquecas estavam tão deliciosas quanto ela! Enquanto mastigava, tentava lembrar pelo menos o nome da morena. Nada, nem uma mísera pista.
- Vou tomar uma ducha e assim que sair te quero me esperando na cama ok? – avisou aquele pecado em forma de mulher.
Dane-se o nome dela. Eu nem mais lembrava o meu! Devorei mais duas panquecas e corri para os lençóis. Escuto o chuveiro desligar e meu coração acelera. Seu perfume invade o quarto, e lentamente ela caminha em minha direção. Minha dor de cabeça até passou. O cair de sua toalha quase corta minha respiração. Nossos lábios se aproximam e estão prestes a se tocar. Eu sinto seu corpo…
TRIIIIIIIMMMMMMMMM. O telefone tocando me acorda. Atendo, e o desgraçado desliga. Olho rapidamente para o relógio: 3 da tarde. A cabeça latejando não me impede de correr até a cozinha. Vazia. Nenhuma mulher seminua. Retorno ao banheiro. Nenhuma deusa tomando uma ducha. Nem mesmo as malditas panquecas no fogão. Somente o gosto amargo de bebida em minha boca e uma enxaqueca digna de uma senhora ressaca. A única certeza que eu tinha? Que nunca mais beberia daquele jeito novamente.
Pensando bem, não via a hora de tomar outro porre destes. Quem sabe a morena ainda não estaria me esperando…