DA SENSAÇÃO DE SENTIR-SE INDO...
 
Não,  braços nenhum a segurava, mas ela se deixava enganar como se eles existissem; na sua ilusão estúpida idealizou  a figura de um ser e o mensurou, dando-lhe  dimensão grandiosa e o imaginou encantado,não no fundo do mar, mas em terra firme, capaz de seduzi-la pelo canto só perceptível aos seus ouvidos. Quanto tempo durou o seu torpor, o seu deslumbramento de acreditar-se amada? Tempo suficiente para fazer desmoronar toda  sua estrutura emocional. E de onde partiu a sensação de sentir-se indo? De braços que se estenderam, não de uma figura imaginária, mas real, que a tomou pra si e fez com os seus braços um escudo capaz de protegê-la, não das vicissitudes da vida material, pois  estas não existiam, mas as da alma, do coração ferido.  E como foi suave aquele tocar de mãos, que se entrelaçaram e livres de amarras e desconfianças, iniciaram um caminhar lado a lado; e mesmo não sabendo aonde chegar, aquele momento representava a sensação desentir-se indo... indo.... indo... sem mais desejo de olhar para trás, nem para dizer  adeus.

 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 28/09/2012
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