Um Amor de Poesia
A poesia a gente inventou ou já estava aqui quando chegamos? Será que batizamos de amor aquele carinho que o homem da caverna tinha pela companheira e nem sabia que tinha? Ou pelo filhinho que nasceu e ele SENTIU necessidade de proteger? Tal como qualquer animal? Coisa inerente à maioria dos seres vivos?
Mas a poesia é só amor? Ou todo amor será necessariamente poesia? Vamos imaginar o pithecanthropus erectus contemplando o amanhecer de barriguinha cheia... Ou pensando no que fazer... diante de um daqueles animais gigantescos que ameaçaram antes de o sol nascer (no dia de ontem) a sua família...
Então, quando não existíamos da forma que hoje existimos, de terno e gravata, ferro e chibata, ou apenas de bata numa rua da Ásia, um lap-top do lado e um iPad na prateleira, caminhando para faculdade atrás de um monte de besteiras ou de verdades... não poderíamos falar em poesia. Nem falávamos. Urrávamos somente. Mas SENTÍAMOS. E não era apenas dor o que sentíamos.
E ainda que não existíssemos, nenhum ser humano sobre a face da terra nos primórdios, nem, é claro, os animais ditos irracionais, porque estes sentem quase tudo o que sentimos, ainda assim é possível imaginar que uma árvore conversasse com a outra. Que reclamasse de não ser tão frondosa quanto sua irmã. Que um graveto reivindicasse pra si a importância de estar no meio do caminho. Que a amendoeira reclamasse do frio em seus pés devido à sombra por ela mesma provocada.
É claro que a vegetação interagiria. E então teríamos a poesia. Que necessariamente veio antes de nós. Achando-se dentro dela, algum tempo depois, as diversas formas de amor...
Contudo, podemos supor o contrário. Quando eles resolverem acionar a bomba com o cacetão de megatons (deve haver coisa mais moderna ou condensada) – daquelas que o Einstein (e=mc2) ajudou a construir – e tudo explodir e nada mais restar, talvez uma partícula sub-atômica pergunte a outra ao lado o que fazer para se desintoxicar... Pois a poesia, ainda assim, estará no ar!
Rio, 28/09/2012