PEDACINHOS DE VIDA
Eu era menina pequena. Desenhava em meu caderninho tudo o que imaginava e até me saía bem!
Minha mãe pintava óleo sobre tela e, sem que ela visse, eu catava as bisnagas que ela jogava fora, os pincéis que descartava, juntava pelo chão cacos de vidro, louça, azulejo, pedacinhos de madeira, qualquer coisa em que pudesse pintar o que imaginava!
Subia na minha laranjeira preferida e entre os galhos em forquilha, na tábua que havia colocado lá, colocava as minhas preciosidades... E pintava escondido com o restinho de tinta!
Depois ela foi embora...
Continuei a pintar somente com meus lápis de cor. Mas apesar de tudo, isso não me satisfazia!
Só fui encontrar mamãe de novo quando eu já era moça, mas não pude mais falar sobre a minha vontade de pintar.
Bem que eu quis entrar para a Escola de Belas Artes, mas Papai não deixou. Eu teria que morar sozinha numa cidade grande e ele não deixaria jamais que eu enfrentasse tal empreitada!
Tenho alguns desenhos em aquarela que um dos filhos encontrou dentro de um livro velho e mandou enquadrar. Só isso. E esse filho herdou de minha Mamãe o dom para o desenho e a pintura!
Outro filho tem um quadro dela, onde retratou uma velha árvore desfolhada! Coisa linda!
Aquela menina de 10 anos nunca mais teve restos de tinta e pincéis e nunca mais catou pelo chão, pedacinhos de sonhos onde colocar seus sentimentos.
E tenho netos que se esmeram também nos desenhos que fazem... Com talento não se brinca!