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SE TENS OLHOS, VEJA!

 
Eu não sou capaz, tampouco leviano, de afirmar que tenha uma relação direta com o que aconteceu, mas que dá para pensar, isso dá. Cogita a tal lei de causa/efeito em que os atos praticados guardam similitude com os resultados gerados, tipo, faça hoje, receba amanhã. Independente a qualquer preceito religioso, é a mera prática pura e instintiva do cotidiano que fartamos de ver. Julgo, até,  em meu pequeno discernimento tratar-se de uma relação ainda no limiar da compreensão humana, de ordem bem superior. É o dar e receber de S. Francisco de Assis, em que nós, imbuídos do pesado egoísmo invariavelmente ainda recusamos a ceder, a entregar, a confortar etc, em prol de uma recompensa futura, se tratando de uma ação nobre e despretensiosa. Há, porém, o outro lado da moeda.
Seo Hermínio, antigo morador de Campinas, tinha lá seus porcos criados no terreiro. Na ocasião, seria três pares de suínos, entre eles uma pesada porca.
Embora grande e desajeitada, o animal era forte e teimoso; fuçava os pés das estacas do chiqueiro, derrubava-as e fugia. O velho criador, irado, a contragosto trazia-a de volta ao cercado; metia-lhe em seguida o relho até amuar a pobre parideira. Pouco adiantava. A memória do animal logo esquecia o espancamento e repetia a provocativa proeza.
Eis que, no juízo do homem, gerou a infeliz idéia: perfurou os dois olhos do infeliz animal!
--- Agora quero ver fugir!  Afastou-se triunfante.
A vizinhança protestou condoída. O algoz pouco ligou.
--- A porca é minha, e pr0nto!
Fez e estava feito!
Mal passaram dois anos. Incrédulos, assistíamos a desventura do Seo Hermínio dentro da própria casa vagando às apalpadelas, choramingando a infelicidade advinda; quando não, conduzido pelas mãos dos parentes a fazer suas necessidades. Cego, ceguinho da silva!

Um tumor inesperado apareceu no cérebro do homem e por pouco não lhe tirou a vida, mas, curiosamente arrebatou-lhe a preciosa visão.
Os desígnios pouparam-lhe a vida, ele precisaria dela para sentir o tenebroso martírio da escuridão e repensar o ato cruel.
Confesso jamais ter visto, porém, à boca pequena, corriam dizer que, vez por outra, ele pedia que o conduzissem ao cercado do chiqueiro para acariciar a porca cega, e, chorando, implorava o perdão pelo irreversível ato praticado.
São coisas que a gente vê pela vida e nos servem de lição. Estão no livro da sabedoria popular na forma de metáforas, e embora singelas, carregam grandes advertências a nos alertar claramente: “quem com ferro fere, com ferro será ferido.”
Estão lá, vejam por si.
 
 
moura vieira
Enviado por moura vieira em 27/09/2012
Reeditado em 22/03/2021
Código do texto: T3903858
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