Confissões de uma madrugada em claro
Eu nunca peço pra ele subir. Já se passaram centenas de milhares de encontros e eu nunca pedi pra ele subir. Acho que talvez eu tenha vergonha desse meu apartamento todo bagunçado. Tenho essa ideia de que como sou uma garota eu deveria manter as coisas um pouco mais em ordem, mas nunca foi assim e não sei porque eu mudaria isso agora.
As vezes, eu só queria que ele invadisse meu apartamento e me levasse direto pra cama, como se mais nada importasse. Não que eu seja uma viciada em sexo, mas é que eu sei que depois que todo rala e rola acabar ele vai continuar deitado na minha cama. Ele vai passar a mão no meu cabelo, vai ficar olhando pro teto e falando sobre a vida. Eu sei que ele não vai se importar se eu transformar minha nudez em uma camiseta velha e meias.
Pelo menos eu acho que seria assim. Acho que conheço ele suficientemente bem pra dizer que tipo de cara ele é, e posso afirmar com toda certeza que ele é daqueles que não se sente incomodado em ficar pro café da manhã. Na verdade, ele me parece um tipo de cara que ficaria pro café da manhã, pro almoço, café da tarde, chá das cinco, janta e até pra experimentar uma receita nova no meio da madrugada. Ele é o tipo de cara doce e simpático, mas que sabe se soltar quando tá na sua cama. É o tipo de cara que qualquer mulher meio encalhada como eu adoraria levar no casamento da irmã mais nova.
Ele é todo certinho e eu sou toda a confusão do mundo. E acho que é por isso que não dá certo. O fato é que eu morro de medo de bagunçar a vida dele e não conseguir arrumar depois. Eu é que não quero viver o resto da minha vida sendo condenada por levar o cara pro mal caminho. Não sou mal exemplo, mas também não sou lá muito certa das ideias. Acontece que gosto de fazer o que me dá vontade, só não faço nada com ele, por ele, pra ele, por causa desse maldito medo de acabar com a imagem de bom moço dele.
No fundo, eu acho que fantasio demais uma vida perfeita ao lado dele. Eu fantasio que ele vai me colocar nos eixos, me fazer andar na linha, que ele vai me salvar de toda essa confusão que eu venho criando na minha vida. No fim, eu até percebo que não é medo de bagunçar a vida dele que eu tenho, mas é medo de que encarar a verdade e dizer pra ele que eu não quero só ficar. É medo de admitir que pela primeira vez na vida, eu quero um amor pra vida inteira e não um sexo de uma noite que na manhã seguinte me deixa completamente vazia, como se eu fosse um brinquedo velho que todo mundo já cansou de brincar.