O CARROSSEL COLORIDO
“La española cuando besa
Es que besa de verdad...’
(Juan Legido)
Se me perguntarem o quanto entendo de pintura, estaria mentindo
caso a resposta fosse positiva. Mas, tenho verdadeira paixão por
quadros. Sou capaz de passar horas e horas diante deles. Abstrato,
natureza, paisagens urbanas, rurais, náuticas, selvagens, de tudo.
Entretanto, não gosto e não sei explicar o porquê, de natureza morta.
Seria por não ter vida? Pintores prediletos não os tenho, porém,
alguns mexem com minha sensibilidade. Já cheguei, sem exagero,
em determinadas ocasiões, a sentir enorme emoção, indo às
lágrimas. Foi o que aconteceu em Madri, no Museu do Prado, que eu,
vejam bem, eu, em comparação com o Louvre (será uma heresia?)
prefiro aquele. Em excursão ciceroneado por uma “madrileña muy
hermosa”, e, principalmente, possuidora de uma cultura invejável,
visitei o famoso museu. Sabe-se lá, influenciado pela guia, isto por
motivos óbvios, quem mais me impressionou foi o espanhol
Velásquez, pelos detalhes dos rostos de suas figuras, com expressões
incríveis de tão reais. Somente mesmo um ser dotado de dons
artísticos excepcionais, pode captá-las e, o que é mais importante,
transmiti-las, representá-las numa tela. Felipe IV, A Coroação da
Virgem, As Fiandeiras, A Forja de Vulcano, As Meninas (considerada a
obra-prima de toda história da pintura européia), A Rendição de
Breda e Os Bêbados, são suas obras de destaque. Impressionante no
Cristo Crucificado, igualmente de sua autoria, a expressão do rosto
do Filho de Deus. Nessa tela, há um detalhe que a distingue de
outras similares, por ter os pés do Cristo separados, em paralelo e
não fixados um em cima do outro. Diante de tanta beleza, chorei! A
emoção foi muito forte!
Todo mês, tenho ido ao Hospital A.C. Camargo, na Capital, e lá, no
saguão de entrada, sempre há mostra de pintores, geralmente
desconhecidos, mas, nem por isso, desprovidos de talento. Trata-se
de iniciativa de grande conteúdo humanístico, tanto da parte da
direção do nosocômio, como da organização desses eventos. Quem
vai àquele hospital, com toda certeza, está com o espírito em
condições bem abaladas e, as obras de arte expostas, servem de
lenitivo para superação do sofrimento de cada um.
Recebi, dia desses, um e-mail trazendo obras de um pintor bielorusso,
Leonid Afremov, radicado em Miami, que me deixou
impressionado. Sua técnica é interessante, pois, ao invés do pincel
ele usa espátula, sendo os seus trabalhos de uma beleza esfuziante,
abusando das cores. Há cenas de cidade, de alamedas arborizadas,
com pessoas andando na chuva, barcos, todos os quadros de uma
perfeição incrível. A série apresentada em slides nos leva a uma
viagem maravilhosa, com cenários encantadores, transportando-nos
como passageiros de um carrossel, num festival de cores magnífico,
que nos emociona a cada tomada de cena, num abrir e fechar de
olhos, a cada volta completada. Excelente!
Tenho, na família, uma renomada artista plástica, Fernanda Meirelles,
com exposições no exterior e no Brasil. Recentemente, teve suas
obras expostas no Museu Brasileiro de Escultura, o MUBE, e na
galeria do artista plástico Caribé.
Conheci o Eurico quando era ainda menino. Grande amigo de meu
irmão Sebastião. Apesar da diferença de idade, ele mais velho,
jogamos futebol juntos. Os anos se passaram, não mais tive notícias
dele. Achei uma foto em que ambos estávamos. Publiquei-a na
coluna Memória do Diário do Grande ABC, do Ademir Médici, num
artigo sobre a Vila Sapo. Ele viu e me procurou. Foi assim que nos
reencontramos, após mais de 50 anos. E, para minha surpresa, me
deparei com o artista plástico Eurico Martin! Visitei sua casa, quando
fiquei sabendo ter sido ele grande amigo do consagrado artista
andreense Luiz Sacilotto, inclusive havendo ambos viajado pela
Europa, por mais de uma vez, com a finalidade de pesquisa artística.
Tomei conhecimento de seu rico acervo, constituído de telas e
esculturas. Mas, infelizmente, encontra-se praticamente anônimo. É
uma pena! Vamos mudar essa situação. Ele merece ser divulgado,
reconhecido agora! Santo André não pode deixar esse seu filho
incógnito! Homenageá-lo depois... a homenagem perde sua alma!
“O guerreiro, quando desembainha sua espada
Tem que sujá-la, nem que seja com seu próprio sangue,
Caso contrário, a arma perde sua alma”.
(do livro das Artes Marciais)