O JOGO DO BICHO
Por Carlos Sena


 
Atirei o pau no gato, mas ele não morreu. Pensei que nessa cantiga que eu ouvi muito nos tempos de curso primário, o gato não morresse por conta das suas sete vidas. Gato é mesmo um bichinho preferido também pelos escritores para compor suas histórias e aventuras. Saindo um pouco dele, mas ficando nele ao mesmo tempo, há uma passagem que um bicheiro interpretava sonho. Além de ser cambista, ele tinha uma clientela que sempre lhe perguntava “seu Colarinho, qual é o palpite de hoje”? Na “chuncha” ele logo dizia “gato”, macaco ou o que bicho fosse. O curioso é que os que jogavam no bicho na banca de Seu Colarinho, não lhe consultava acerca do palpite. Geralmente os que faziam isto não jogavam em sua banca. O pior é que Colarinho era péssimo de palpite, mas muito bom de interpretação dos sonhos que se concluía com o palpite para o bicho.
Certo dia chegou uma senhora meio desconfiada: “Seu Colarinho, eu passei a noite toda sonhado com um gato caindo do telhado, joguei tudo no gato e não deu gato”. Claro, respondeu Seu Colarinho: “gato que cai do telhado é burro”. Por isto que deu burro. Tá vendo em que dá não querer que eu interprete os sonhos? Perdeu e perdeu uma dinheirama.
No outro dia, o bairro inteiro ficou sabendo que uma cliente de Seu Colarinho tinha acertado do primeiro ao quinto. Ganhou uma bolada boa e dividiu com o patrão. Perguntado se tinha opinado sobre o bicho que sua cliente jogou, disse que não. Mas que estava doido para encontrar com ela pra lhe perguntar acerca. Não foi preciso esperar muito. Imediatamente ela aparece toda feliz com a dinheirama que tinha ganhado. Indagada sobre o seu palpite, de pronto ela lhe disse como ele veio. Ora, Seu Colarinho, eu passei a noite todinha sonhando que estava fazendo um bolo de farinha de trigo. Acordei, bebi água e retornei pra dormir. De novo ele, o mesmo sonho recorrente – eu não parava de bater um bolo de farinha de trigo. Assim que me acordei fui direto à banca e joguei todo o dinheiro que meu patrão me deu. Todo dia ele me dava um pouquinho de grana para eu fazer uma fezinha, mas nesse dia eu disse a ele que queria muito mais dinheiro e ele me deu. Joguei todinho do TRIGUE. Ora, se eu passo a noite sonhando que estava afazendo um bolo de farinha de TRIGUE, só poderia dar TRIGUE. Quem estava por perto não segurou o riso, mas a Senhora saiu rindo a toa. Colarinho ficou calado, pois não havia cabimento um bolo de farinha de trigo servir de palpite para o TIGRE no jogo do bicho.
É como “atirar o pau no gato” a noite toda num sonho e no dia seguinte jogar cobra. Afinal “mata a cobra e mostra o pau”...