Confissão

 
Em tempos chuvosos me perco do meu próprio eu, é quase como se um fantasma de solidão, de nostalgia, de tristeza e empanzinamento com as coisas a minha volta, dominasse todos os meus sentidos, cada célula de meu corpo; desde que me identifiquei como ser pensante, que tento descrever este sentir, que sempre me acompanhou, mas que diante as águas que caem do céu, torna-se maior quase que insuportável... Tirei destes momentos belos poemas; tristes e alegres, pessimistas e esperançosos poemas... Conheci algumas ciências e descortinei muitas verdades, mergulhando profundo em minha própria alma através delas; varias explicações obtive, mas eu ainda não entendo... Por isso digo que enquanto houver chuva eu serei poeta.
No entanto hoje, o céu bramiu e tingiu-se de cinza-negro, e na melancolia que se instalou quase que de imediato, eu senti o fio de uma ansiosa felicidade como uma réstia de pólvora molhada onde uma única faísca luta bravamente para manter-se acesa... Respirei fundo e me concentrei nesta única faísca, e eu pude ver todos os rostos que me inspiram saudade, eu pude sentir vibrar dentro de mim, cada coração que bateu em ansiedade por me ver e cada momento em que fui feliz...
Me protegi da chuva e no silencio de meu espírito eu pude ouvir cantos de louvor à vida, e eu que falo da eternidade como uma fria e distante esperança de continuidade simplesmente por medo de deixar de existir, sim porque assumo que nada tem minha total fé depositada, pude realmente sentir a eternidade fluir de minha alma mais profunda para todo o meu ser e todas as coisas a minha volta... Posso com meu coração visitar tudo e todos que amo, tudo e todos que estão distantes... Mas, além disto, eu descobri o amor vaidoso por mim mesmo... Amo violentamente e de tal maneira a minha própria existência que me lancei na busca pela eternidade e por isso tenho a vivido pelas vias das filosofias que encontrei e repasso para todos como canto de esperança e consolo para corações saudosos...
Não foi por amor a ninguém que partiu que fiz da vida após a morte uma certeza, e não foi em pró do conhecimento que aprendi e ensinei sobre as estrelas e sobre as moradas que ultrapassam esta realidade... E não foi por desapego aos bens terrenos que passei este tempo todo juntando meus tesouros no céu... Se tudo isso fiz foi por vaidoso velar de minha própria vida, eu não aceito a morte, eu não aceito o fim, porque sou apaixonada por minha própria essência, alimento um apego doentio pela minha própria existência, eu só quero viver para sempre e nada mais... E talvez nada disso seja tão notório, por que além desta vaidade desmedida eu também sou hipócrita e como todos os outros anseiam, eu também anseio os galardões reservados aos bons trabalhadores da seara do mestre.
Cada vida que visitei e curei; cada esperança que plantei; cada grito de guerra que calei em meio às bandeiras da paz que levantei; não fiz por amor incondicional... Eu fiz por mim, tudo foi sempre por mim e por ninguém mais.
Não vou dizer o quanto lamento, o quanto me dói descobrir-me verme tão pequeno e desgraçadamente inverdadeiro. Não vou... Pois eu não lamento nem um pouco e muito menos lamento por não lamentar, não sinto orgulho em confessar, mas não vou ser ainda mais hipócrita em dizer que me causo vergonha, no entanto isso também não quer dizer que ficarei inerte neste estado...
 
  




Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 24/09/2012
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