DESCONTROLE OFICIAL

A Constituição Brasileira de 1988 diz que saúde é direito do cidadão e obrigação do Estado.

Embora concordando com a essência da afirmação, eu vejo que esse é um dos ralos por onde o dinheiro do contribuinte vai parar no bolso dos eternos aproveitadores devido, principalmente, à falta de escrúpulo dos ladrões de casaca e ao descontrole oficial no que se refere à distribuição gratuita de medicamentos de uso contínuo.

Como a medicina em nosso país é praticada com o foco no efeito e não na causa, a cada dia é maior o contingente de dependentes de fármacos que, ao mesmo tempo em que suprem a carência orgânica momentânea, inibem, num longo período de tempo de uso, a síntese desses hormônios pelas glândulas endócrinas específicas.

Hoje, bem mais do que vinte anos depois do fato, acredito que meu caso é mais um desses, pois eu tive um pico de alta de pressão arterial que, na crise, reduziu o meu campo de visão e alterou minha audição.

Eu via as imagens condensadas no centro de um campo escuro, como nas antigas telas de televisão, quando estavam com defeito no controle horizontal e os sons como se eu estivesse dentro de uma caixa de metal.

Imediatamente procurei a emergência cardiológica mais próxima do escritório onde trabalhava.

O médico que fez o atendimento era socorrista e me deu uma cápsula de gosto horrível para ser colocada sob a língua, depois de mastigada.

Horas depois, quando a pressão arterial (P.A) desceu para nível aceitável, fui liberado com a recomendação de que deveria procurar um cardiologista porque “daquele dia em diante”, ad perpetuum, eu estava condenado a ser um dependente de droga.

Farmacológica, porém droga.

O diagnóstico do especialista foi a confirmação do que dissera o socorrista e eu, burramente (se é que existe esse advérbio de modo) me deixei levar pelo procedimento irresponsável dos dois médicos, pois foi relegado ao “esquecimento” aquele método antigo de se “fazer medicina” com anamnese, onde são investigados os antecedentes patológicos do paciente e de seus parentais;

análise de nível de estresse nos ambientes de trabalho e familiar; pesquisa de hábitos alimentares;

frequência de ingestão de álcool/fumo, etc.

Nada disso foi levado em conta ou sequer pesquisado e a partir desse evento, o beta bloqueador que mantém a minha P.A. em 12/8 (salvo raríssimas exceções), faz parte do meu café da manhã.

Até ano passado eu comprava o medicamento nas inúmeras farmácias que estão espalhadas, abundantemente, por todo canto, porque tendo o dinheiro certo da aposentadoria eu pensava (pensava, não penso mais) que, deveria deixar os medicamentos distribuídos gratuitamente nos postos de saúde para aquelas pessoas menos favorecidas, mas como disse na crônica FORA DE SINTONIA, (publicada no Recanto em 30.12.2011) que em 2012 eu iria me tornar digno dos meus conterrâneos, me permiti ir, mensalmente, pegar o medicamento gratuito.

E, todo esse “converseiro” comprido, é exatamente sobre essa distribuição, indiscriminada que, eu considero, deveria haver controle rígido.

Qualquer pessoa, com qualquer receita onde haja um carimbo funcional com um número de qualquer CRM (Conselho Regional de Medicina) e um garrancho por cima, à guisa de assinatura, pode retirar os medicamentos ali descritos, sem controle ou qualquer anotação além do carimbo com a data em que foi feita a entrega.

Nosso país está informatizado e, diga-se de passagem, muito bem informatizado.

Todo cidadão para existir tem que estar registrado no Cadastro de Pessoa Física (CPF), então por que não existir em cada posto de distribuição de medicamentos um terminal onde o funcionário do posto pudesse digitar o CPF do médico para ver se ele existe e se está autorizado a prescrever aquele tipo de remédio;

CPF do paciente para o controle de entrega e;

código do medicamento/quantidade entregue para a baixa automática no estoque?

Nem dá para avaliar quantos milhões de reais são pagos aleatoriamente aos laboratórios nessa farra com o dinheiro da Previdência Social, que paga aposentadorias ridículas, corrige benefícios bem abaixo da inflação, que nunca recupera um centavo dos desvios feitos pelos próprios funcionários em associação com advogados, despachantes e toda sorte de estelionatários (lembrar-se de Georgina de Freitas).

Acredito que a principal coisa que falta para consertar o Brasil é uma corda, com nó de forca, para em praça pública, executar a ação de cobrança de valores morais, cívicos e monetários.