QUE NA OUTRA VIDA NÃO SE ENCONTRE NESTA MESMA AGONIA
Enquanto a mulher em silêncio lavava a louça do jantar, o marido estava às voltas com as contas do mês, que não fechavam, permanecendo no vermelho. Contas espalhadas por sobre a mesa da cozinha, marido com ar preocupado, batucando nas teclas da máquina de calcular. Parou por um instante, fixou os olhos na mulher, mais precisamente nas suas varizes salientes, consequência, talvez, do lavar, passar, arrumar, cozinhar, idas e vindas ao supermercado carregada de sacolas... Pensou também nos quatro filhos, três rapazes e uma moça. Os rapazes pouco afeito aos estudos e mais ligados às baladas e aos faces da vida. A moça, a sua menininha de apenas quinze anos e já grávida de quatro meses de um menino de sua idade. De fato, a vida não estava nada fácil, ganhava pouco e era a única fonte de renda da família, se bem que a sua mulher nas horas vagas, saísse de porta em porta do bairro tentando vender produtos de beleza da Avon. De uns tempos para cá, ele e a mulher estavam frequentando a Igreja Universal, mas um compromisso assumido com o dízimo e ontem por ocasião do culto foi passado um envelope para que os irmãos contribuíssem com a quantia de trezentos reais, que seria empregada na ida de quatro bispos a Jerusalém e lá chegando, subirem no monte das Oliveiras, para falar com Deus. Aí, até pensou... - e pediu perdão, - mas será que Deus tá ficando surdo a ponto de precisar que os bispos subam no monte para Ele ouvir o que se pede? Ah, deixa pra lá, só sabia que para arranjar esta quantia teria que penhorar as alianças de casamento... Que assim seja pensou... Se as coisas estavam difíceis nesta vida, que ao menos fique de bem com Deus e tenha esperança que na outra vida não passará por esta mesma agonia.
Enquanto a mulher em silêncio lavava a louça do jantar, o marido estava às voltas com as contas do mês, que não fechavam, permanecendo no vermelho. Contas espalhadas por sobre a mesa da cozinha, marido com ar preocupado, batucando nas teclas da máquina de calcular. Parou por um instante, fixou os olhos na mulher, mais precisamente nas suas varizes salientes, consequência, talvez, do lavar, passar, arrumar, cozinhar, idas e vindas ao supermercado carregada de sacolas... Pensou também nos quatro filhos, três rapazes e uma moça. Os rapazes pouco afeito aos estudos e mais ligados às baladas e aos faces da vida. A moça, a sua menininha de apenas quinze anos e já grávida de quatro meses de um menino de sua idade. De fato, a vida não estava nada fácil, ganhava pouco e era a única fonte de renda da família, se bem que a sua mulher nas horas vagas, saísse de porta em porta do bairro tentando vender produtos de beleza da Avon. De uns tempos para cá, ele e a mulher estavam frequentando a Igreja Universal, mas um compromisso assumido com o dízimo e ontem por ocasião do culto foi passado um envelope para que os irmãos contribuíssem com a quantia de trezentos reais, que seria empregada na ida de quatro bispos a Jerusalém e lá chegando, subirem no monte das Oliveiras, para falar com Deus. Aí, até pensou... - e pediu perdão, - mas será que Deus tá ficando surdo a ponto de precisar que os bispos subam no monte para Ele ouvir o que se pede? Ah, deixa pra lá, só sabia que para arranjar esta quantia teria que penhorar as alianças de casamento... Que assim seja pensou... Se as coisas estavam difíceis nesta vida, que ao menos fique de bem com Deus e tenha esperança que na outra vida não passará por esta mesma agonia.