As historinhas dos menininhos

Ouvir histórias é a melhor coisa do mundo para uma criança. Não só para elas, mas para nós, também. Aliás, melhor que ouvir histórias somente mesmo ler histórias. Por isso, é tão importante que os pais façam isso enquanto os filhos estão pequenos. E crianças embarcam em qualquer uma delas. Podemos contar aquelas mais bobinhas que elas ficam encantadas. Sabem, por quê? Porque elas possuem uma imaginação fantástica, capaz de transformar qualquer descrição insignificante num magnífico cenário.

Está comprovado que contar histórias é construir um futuro leitor e, por que não dizer, um futuro escritor? Enquanto a criança ouve, ela vivencia e desenvolve a imaginação. Isso vai ajudá-la de forma definitiva nas futuras redações, pois a imaginação foi trabalhada na época certa.

Quando os meus filhos eram pequenos, aproveitei de outro efeito benéfico do “contar histórias”, que eu chamaria de “efeito didático”. Eram as historinhas dos menininhos que eu inventava. Com isso, alcançava todos os meus objetivos de maneira agradável. Dependendo da situação, aparecia um personagem. Eu falava:

— Sente-se aqui que você vai escutar a história do menininho que não queria obedecer à mãe.

Imediatamente eu conseguia toda a atenção dos meus filhos. Quanto mais convincente fosse ela, mais objetivos eu alcançava. Se o menininho que acabou de tomar banho saísse no frio, pegasse um forte resfriado e tivesse que tomar injeções eles nem ousavam fazer semelhante coisa.

Era muito interessante, pois bastava não estarem querendo fazer alguma coisa que olhavam para mim com aquelas carinhas de anjos e falavam: “Mamãe, conte a historinha do menininho que não comia verdura!”, Ou: “Conte o que aconteceu com o menino que não queria tomar banho”. Mas, muitas vezes, tive de prender a respiração, ao ouvir algo do tipo: “Mamãe, conte o que aconteceu com a menininha que quebrou o vidro de perfume da mãe dela...”.

E as histórias se multiplicavam: era o menino que gritava muito (essa então, era bem dramática: ele vivia gritando, um dia o homem da mala passou e levou-o. Ele gritou... gritou... mas a mãe não deu atenção, pois achara que ele estava gritando sem motivo...).

Acabo de me lembrar de algo que me fez rir muito. Eu estava tentando convencer o meu filho de que comer ovo é excelente para a saúde. Eu havia esquentado um naquele ponto exato e estava com ele preparadinho (com uma das extremidades quebrada), a colherinha na mão...mas o meu filho não estava nem aí para o alimento. E olhe que se tratava de um ovo de galinha genuinamente caipira, daqueles da gema bem amarelinha. Falei com ele:

— Ovo é tão forte que se você comer vai ficar com o muque assim, bem grande! O ovo vai todo para o muque.

Ouvindo isso, ele parou imediatamente de brincar e veio comer o ovo. Enquanto comia, eu percebi que estava apertando o braço, na altura do músculo do ante-braço. Lembrei-me de que na véspera ele havia tomado uma vacina naquele braço. Falei:

— O lugar em que você tomou a vacina está doendo?

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Por que então você está apalpando o seu braço?

Muito compenetrado, ele respondeu:

— A senhora falou que o ovo vai para o muque... Estou esperando ele chegar aqui!

Hoje quando me lembro dessas coisas, fico rindo sozinha... Mas que as historinhas me ajudaram muito a educá-los, eu não tenho a menor dúvida!

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 23/09/2012
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