O livro: O Melhor das Antologias - Um Convite à Navegação Sem Rumo, ADL, lançado em 2010.

Publiquei, na p. 67-68, a crônica Sebastião Pereira: o camponês que virou odontólogo (idem, anteriormente publicada em Anthocrônicas II de 2009, da ADL).

O Melhor das Antologias

O livro O Melhor das Antologias - Um Convite à Navegação Sem Rumo, lançado em 2010, é a mais recente publicação da Academia Divinopolitana de Letras. A obra traz textos dos atuais Acadêmicos e, também, daqueles que já não ocupam uma das 40 cadeiras, mas permanecem imortais por meio de seus escritos.

O subtítulo do livro - Um Convite à Navegação Sem Rumo - pode ser entendido de duas formas distintas: A primeira é que espera-se que o leitor faça uma viajem pelas maravilhas literárias que Divinópolis possui. A segunda, refere-se à própria seleção de textos para a organização do livro, que foi um verdadeiro navegar pelas obras de todos aqueles que já passaram pela Academia.

A publicação foi elaborada a partir de várias obras antológicas produzidas pela Academia de 1962, um ano após sua criação, até 2009, ano em que foram publicadas as duas últimas antologias da ADL.

Adquira agora mesmo o seu exemplar de O Melhor das Antologias na sede da Academia Divinopolitana de Letras, que fica localizada na Estação da Cultura - Praça Pedro X. Gontijo, 21, Centro - e navegue você também por um mar de história e emoção.

Mais informações pelo e-mail atendimento@adletras.com.br ou pelo telefone (37) 3222-9130.

FONTE: http://www.adletras.com.br/index.asp?c=paginas&modulo=informativo_exibe&url=237&navegacao_categoria=Publica%C3%A7%C3%B5es&navegacao_subcategoria=Outros

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Sebastião Pereira: o camponês que virou doutor

Sebastião Pereira: o camponês que virou doutor

J B Pereira

“Onde nasceu, morreu!” O Nhozinho da Rola era o apelido de meu pai. Sebastião Pereira nasceu no Ribeirão do Chaves, região limítrofe entre São Miguel do Cajuru, hoje Arcângelo, distrito de São João Del-Rei, e Madre Deus de Minas. Cajuru, em tupi-guarani, significa “abertura ou entrada em floresta ou mata. As terras do Chaves foi sendo dividida entre os filhos do casal Maria Luiza de Jesus, Dona Rola, e Francisco de Sales Pereira, Vovô Rola: Tio Geraldo, Tia Chiquita, Tia Ceda e Tia Tunica. Vovó Rola, viúva foi viver na praça de Cajuru, em uma casa de esquina, com o irmão tio Quinca, que morava logo a baixo. Vovó, devota de Nª. Srª de Fátima, participava das missas no arraial. Ela era alegre e suave, olhos azuis. Cantava, gostava de contar as histórias de moça, seus apertos na criação dos filhos e como rompeu a viuvice. Vovó morreu com 93 anos. Papai amava aquele arraial, toda festa de São Miguel participava com toda família. Lembro como hoje, em seus apontamentos: este arraial teve imprensa Tribuna de Cajuru, Pharmácia, lojas diversas, muita gente. Os amigos do lugar foram tantos, desculpe-me se esqueço muitos: O mais famoso foi o santo Padre Miguel Andrade. Nas missas, procissões, festas e leilões, o som gostoso da banda de Cajuru nos cativava. Na horta da vovó Rola, tinha arvores e era grande, lá eu e irmãos brincávamos muito. As jabuticabeiras eram lindas e os frutos grandes. Pai ia ao arraial de fusca, Vemaquete, Chevrolet, Kombi. O padre Gregório seu colega de internato tornou-se nosso amigo também. Éramos ainda pequenos. Nessa casa, ficava à porta deste beco da Assunção, em São João Del-Rei, a esperar papai chegar do Banco da Lavoura altas horas da noite. Com esse sacrifício, fez odontologia em Alfenas, onde nasci. Depois fez direito em Conselheiro Lafaiete. Papai era bom e amigo, porém, cansado pela luta diária e desgastante do dia no banco (naquela época, tudo era feito à mão, nada de informatização e bando de dados em computador), creio que era por isso que ficava nervoso e impaciente nos meus deveres de casa. Isso o deixava chateado! Que saudade! Havia coisas inesquecíveis em nossas viagens nas vespas e lambretas: no meio rural, ficávamos em fazendas – eu dormia, enquanto ele, com os amigos, em baralho se distraia. Lembro nos dois cortando estradas sem fim – passando rápido em mata-burros para não sermos surpreendidos pelo boi bem próximo. Eram aventuras de filme em branco e preto, claro não faltava a vida das cores, principalmente a cor preferida de meu pai: o verde. Ele teve duas bicicletas Haley, em uma delas, na garupa, agarrei a perna – talvez tivesse 5 anos. No posto de saúde, perto do Carmo, corre da agulha de uma das vacinas, papai teve que correr também, só que atrás de mim, que havia já bem adiantado – tudo por causa do medo da agulha. Lembro-me do fordinho na Rua São João, da moto antiga de papai, dos gabinetes, da vitrola cor de ouro. Lembro de uma visita de tia Augusta, caiu um raio perto quando chovia e eu senti o subir do raio em meu corpo – mas não morri. Papai comprava banquinhos e mesinhas para a gente almoçar e pratos de latão. Na Rua São João, guardo lembranças primeiras de minha vida: as chuvas, os fogos de artifícios a salpicar o céu noturno em direção ao são Caetano, festas da histórica São João, o pimentão que comi achando ser tomate, a voz e o rosto de Sr. João nosso vizinho, o rouxinol que apertei à mão tentando segurar para mim e acabou por matá-lo - isso me deixou por muito tento me sentindo culpado, o susto do Tião da folia de Reis e eu apertando em choro o vestido lindo de minha mãe, as rodinhas de danças dos meninos e meninas na rua. E cantávamos: “Meu amor brigou comigo e me deixou na solidão como dói meu coração... Ah, se ela viesse, eu diria para me perdoar... vem depressa matar meu desejo... lá, lá, lá...” Lembro das canções vinda de rádio ou vitrola... Depois, mudamos de novo, para a General Osório, 438, em São João Del-Rei, MG. Meu pai foi meu melhor amigo em vida!

J B Pereira

Enviado por J B Pereira em 19/01/2012

Código do texto: T3450494

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