NO MEU TEMPO ERA MELHOR...
Dias atrás precisei ir a Santos, no apartamento de minha cunhada
Neide, viúva de meu irmão Valdemar, com o objetivo de tratar de
documentos de interesse da família. Mora num prédio na divisa com
São Vicente, onde vive grande número de viúvos, viúvas e
aposentados.
Como ela é muito sociável, gosta de jogar uma tranca e cozinha
muito bem, fez um número razoável de amigas, que transitam pelos
apartamentos vizinhos, como se fossem suas casas. Assim, durante a
nossa conversa, surge uma delas, já idosa também, de seus 80 anos,
muito à vontade, de short, sandália havaiana, daquelas que gostam
de uma conversa.
Contou que nasceu em Cubatão, no lugarejo denominado Piaçaguera,
que seu pai trabalhou na Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, e aquelas
coisas que, como eu, gostam de ser ditas e ouvidas, referindo-se ao
passado.
Ai veio:
- Naquele tempo que era bom! Havia mais amizade, menos violência,
e...etc....etc. Melhor que hoje!
Como já em outras ocasiões expus minha opinião, discordei dessa de
que “no meu tempo era melhor”, citando as facilidades que temos,
hoje, em todos os aspectos da vida, do dia-a-dia. Ainda bem que
estava para me retirar, evitando, assim, aquela situação
desagradável de jamais chegarmos a um acordo.
A arma que tenho para externar minha opinião é através da crônica,
como esta, muito mais tranquila, não requer discussão, a não ser
quando um leitor discorda; porém, utilizando-me da escrita, é bem
mais fácil estabelecer o contraditório, e demonstrar meu ponto de
vista.
Concordo totalmente, que no passado a vida era simples, não havia
tantos atropelos, o mundo era bem menor, não se ansiava por
grandes conquistas, pois a concorrência era quase inexistente. O
pouco que se obtinha, já era suficiente para se viver, e nada mais se
exigia. Havia pouco empreendedorismo, na verdade. Não existia
cartão, éramos conhecidos pelo nome, comprava-se e marcava-se na
caderneta, a ser paga no fim do mês. Nossa relação com o dono do
estabelecimento, não tinha a mínima característica de negócio. Era
coisa de amigos, e, muitas vezes, de compadre!
Aceito, também, que hoje, não vivemos tão sossegados, a segurança
está, e muito, aquém de nossas necessidades, a luta pela
sobrevivência é deveras grande, o emprego está difícil, e tudo mais.
Todavia, alegar que antes era melhor, a distância é muito grande.
Atualmente, temos tudo na mão. As necessidades são atendidas em
instantes. Quando poderíamos pensar em acordarmos em Santo
André, e dormirmos em Paris, no mesmo dia?
No aspecto saúde, então, a diferença é brutal. Antigamente, nos anos
50, a expectativa de vida do brasileiro era de por volta de 50 a 55
anos. Hoje, esse número chega a 73 anos. Por quê? Ora, a medicina
progrediu tanto, que seja qual for a doença, seu tratamento tem
sucesso, se não com a cura, pelo menos há o prolongamento da vida.
Sem dúvida, tudo ficou mais fácil.
Entretanto, esse assunto, então eu me rendo, é muito polêmico, e
dificilmente conseguirei mudar a opinião dos que não comungam com
meu ponto de vista.
Pois, como já disse o cronista da Vejinha, Ivan Ângelo, “a gente só
gosta do tempo da gente”! E fim de papo!
PS - Escrita em 2010