Quando a tragedia vira piada

O dia de chuva é o pior,vem pouca gente na consulta de emergência,mas sempre são os casos mais complicados.Nassau, nome fictício que dou ao meu paciente, chegou de táxi, com ele uma boa samaritana que eu nunca soube o nome, ela apenas deixou Nassau na portaria em uma cadeira de rodas e disse :"estou apenas ajudando,nem sei quem é,mas o que ouvi dizer na minha cidade é que ele tomou veneno".

Isso mesmo, depois ficamos sabendo, Nassau tinha vindo do interior de táxi, como uma estranha cuja a companhia custara cinquenta reais.Ali na sala de triagem era um individuo moribundo,suado,com rosto pálido e quase não falava direito,a enfermeira preocupada perguntou:

"Sala de emergência?"

A sala de emergência estava cheia, dois pacientes com infarto do miocárdio, um com acidente vascular em respiração mecânica, mas Nassau,parecia estar em risco,então pedi.

"Sala de emergência."Foi quando levaram o pobre do Nassau para lá, um cubículo, quatro por quatro, que não caberiam confortavelmente duas macas e já tinha cinco.

Antes de continuar a historia do Nassau, tenho que falar desse ambiente que chamam de proto socorro, em nenhum lugar do mundo as pessoas sofrem tanto, ou seja, lá o sofrimento é normal porque é publico, não quero aqui chorar dores da saúde publica nem dos honorários médicos, mas as acomodações da saúde publica, só são piores que a de presidiário, o chão é sujo, paredes enegrecidas, cheiro de peixe morto, lençóis velhos, macas duras, quando elas existem, como se as pessoas doentes precisassem ficar no pior ambiente possível, assim iriam embora e o governo gastava menos com a permanência unidades.

Nassau estava com os parâmetros médicos,pulso,pressão e temperatura dentro do normal,o que me fez suspeitar da historia de suicídio.

"Nassau, você tem um telefone ai?"Perguntei, ele respondeu balançando a cabeça negativamente.

Nassau estava me escondendo alguma coisa, fui até a chefia de enfermagem para saber se havia algum telefone de contato.A técnica de enfermagem uma senhora de vasta experiencia ficou com Nassau na

sala de emergência, quando voltei ele me chamou num canto.

"Doutor, fica tranquilo. É coisa do amor"

"Como assim?

"A mulher abandonou ele, parece que ele tem uma padaria aqui numa cidade perto da capital, ele trabalhou como um burro de carga para a mulher estudar o curso Advocacia, quando ela terminou o curso e não conseguiu a carteira da OAB, ele pediu para que ela fosse ajudar na padaria, ela disse nem a pau juvenal, que não fico naquela padaria e depois saio cheirando a tempero, nesse dia ele disse que chorou, sofreu, mulher era dura na queda, ficou parada sem estudar, que nada, ela fez um curso superior novo, disse que advocacia não era a praia dela e começou a fazer o curso de psicologia, depois que terminou o curso ela terminou com o Nassau."

"Ele disse isso tudo agora?"

"Disse mais, mas o senhor é um medico ocupado, o senhor quer ouvir?"

Balancei a cabeça afirmativamente, quando a dignidade masculina está em jogo, até a morte espera.

"Ela chamou ele de feio,barrigudo e molenga".

"Ela fez isso?"

"Disse ainda que ele nem sabe ler, só lê a parte de esporte dos jornais, nem tem a dignidade de torcer pelo flamengo.Em resumo, chamou Nassau de fracassado."

Olhei para Nassau com piedade angelical, e ao mesmo tempo me perguntava o que aquele fracassado estava fazendo na sala de emergência com quatro pessoas quase mortas fugindo um suicido?Nassau representava tudo que eu tinha medo de ser, mole, chato, covarde e melodramático.Ainda assim tinha que impedir Nassau de morrer, foi o meu primeiro pensamento como medico, agora estava com vontade matar o safado do Nassau.

"Nassau, pare de asneiras e me diga um telefone de contato."

Ele sem falar uma palavre entregou o celular em um pedaço de papel, telefonei do meu celular mesmo.

"Alo, aqui é o medico..."

Uma voz de mulher respondeu.

"Já sei, o chorão do Nassau está ai dizendo que vai acabar com a vida,fica tranquilo doutor, ele não tem coragem, e se tiver vai ser um benção em minha vida."

Desligou.Fiquei com a cara de taxo e Nassau deu um sorriso amarelo.

"Como estar, quanto de veneno tomou?"

"Ela me mandou para o inferno?"

"Quase isso, acho que você romperam definitivamente, afinal tomou ou não o veneno?"

"Sou temente a Deus, não tomo veneno, bem que eu gostaria, mas é pecado,além do mais não teria coragem."

"O drama todo, a perda de tempo, a irresponsabilidade, tudo isso foi para impressionar a esposa""

"O senhor já amou alguém tão segmente, desesperadamente,um amor de cinema,sabia que aquela pessoa foi entregue por Deus,subiu no altar.Seus amigos falando, sussurrando no seu ouvido, só que não via como era tratado ,mesmo todo mundo vendo,todos os dias alguém falava, Nassau essa mulher está traindo você, eu não acreditava, foi isso, acabou assim, minha tragédia numa piada,fiz por desespero não é desculpa."

O filosofo brasileiro, Luiz Filipe Pondé, medico como eu, que resolveu abnodar as noites longas de plantão pela agradáveis noites de Platão, ele parece ser inovador, isso é bom, disse uma vez, talvez não com essas palavra ,mas muito próximo ,que mulher não gosta de homem,fraco,choroso, recalmão e com mania de doença.Pergunto o que adianta ser tudo que não se é?

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