COCO NO CANUDINHO

 
 
Com mais facilidade de andar fui até ao Bradesco tirar extratos e ver a quantas andam minhas contas. Banco em greve, as portas envidraçadas cobertas de cartazes gritando greve. Mas pude usar a máquina. Saquei mil e torci não ser assaltada na rua.
Greve é uma palavra antipática, antidemocrática e para mim é o mesmo que a desordem, atraso e incompetência.
Como o passo estava bem resolvi ir até o Vila Rica e o jornaleiro.
Andei bem, quase não usando a bengala. No jornaleiro havia uma liquidação de revistinha de palavras cruzadas a R$ 1,00 cada uma. Comprei sete delas: oh que bom, pois se acabaram todas que tinha em casa. Gosto da CRIPTO. Tão pouca coisa, e fiquei contente. E resolvi tomar uma água de coco nas mesas da calçada do restaurante Vila Rica. Antes entrei na padaria ao lado, para comprar pães frescos.
Sentada à mesa esperei ser atendida e pedi uma água de coco. E fiquei olhando aquela gente carioca andando para todos os lados, enquanto curtia aquela aguinha gelada saborosa. Todo mundo com uma expressão diferente e particular, mas um tom geral de alegria interior e apressados eu notei. E refleti que não devo ter aquela expressão. Olho para as pessoas vendo o que a alma passa. Cada pessoa tem alguma coisa diferente, cada um daria uma crônica. Mas hoje, todos e tudo estavam sendo cenário para mim. Ligada mais a mim mesma eu via a Igreja da Gloria sobressaindo mais alto que as demais construções e árvores. O chão meio molhado da chuva da noite, a cidade lavada.
Terminei a água do coco e chamei, sinalizando que queria pagar e ir embora. Ninguém atendia. Repeti o chamado várias vezes, Oi! Oi! E nada. Juntei meus pacotes e deixei uma nota de R$ 2,00 sobre a mesa. Possivelmente é mais, mas eu quero é ir embora. Saí tranquila, se quiserem que venham atrás de mim, que vou devagar.