Médicos do amor

          Nascimento. Ninguém sabe o dia exato em que eles vieram ao mundo. Há até quem afirme que eles nunca existiram. Lê-se, porém, em relatos os mais diversos, que eles teriam nascido na velha Arábia.
          Pesquisei, e não encontrei a data em que eles foram canonizados; nem o nome do papa que os teria colocado nos altares. Quem o souber, me diga.
          Mas houve um tempo em que o Vaticano teria questionado a santidade deles - seriam eles santos? - dúvida em nenhuma hipótese aceita pelos seus devotos e admiradores em todo o planeta Terra.
          A verdade é que, apesar dos escassos dados que se tem a respeito deles dois, é inegável que ambos ganharam a simpatia de muitas religiões e seitas.  São, por exemplo, respeitosamente venerados nas Igrejas Católica e Ortodoxa, no Candomblé e na Umbanda.

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          Doces e estranhas lendas procuram contar a história desses dois festejados santos, cujos nomes verdadeiros seriam Acta e Passio.
           Gêmeos, um era médico e o outro farmaceutico; ou os dois eram médicos? 
          Socorriam as pessoas sem lhes cobrar um só tostão! Por causa dessa atitude solidária , espontânea e não, digamos, mercenária,  foram chamados de anargiros, ou seja, "inimigos do dinheiro".
          Estão, pois, entre os santos que, em vida, se notabilizaram pela prática incondicional da Caridade.
          Caridosos e milagrosos, nem por isso conseguiram se livrar das perseguições e do martírio.
          Conta a lenda, que, por três vezes, antes de serem degolados, eles tiveram suas vidas postas em risco. Numa dessas, quiseram afogá-los. E dizem os livros: os dois foram salvos pelos anjos!!!
          Foram assassinados em 295, durante o reinado de Diocleciano. 
          Eis aqui, um pouco da história de São Cosme e São Damião, cuja festa será celebrada pelos católicos e adeptos do Candomblé no dia 27 de setembro.

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          Aqui na Bahia, o dia dos santos gêmeos é piedosamente comemorado com o suculento caruru. E haja quiabos!
          Vale, porém, esclarecer, que não somente o caruru é servido: com ele, outras saborosas comidas africanas como o acarajé, o vatapá, o xixim de galinha, o bobó de camarão, a farofa de dendê, etc., etc., etc. Reunindo, em torno desse banquete "sagrado",  gente de todos os credos.
          Lugar especial para as crianças que, segundo se diz por aí, são os verdadeiros amigos dos santos médicos. Costuma-se servir um caruru completo a sete crianças, num ritual que comove, posto que, são geralmente meninos carentes. 

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          Tudo muito bem. Mas no meu modesto modo de ver as coisas, não apenas aos comes-e-bebes deve se limitar a festa de Cosme e Damião. 
          A partir, ou em cima dessa festança religiosa e gastronômica, pelo menos uma recomendação pode ser feita.
          Vamos lá. Dia desses, precisei, com relativa urgência, de uma ultrassonografia de abdômen. Liguei para a clínica. Pediram meu plano de saúde. Aceito o plano, marcaram o exame para quase dois meses depois. Um achincalhe!
          Resolvi, então, pagar a ultra. E em menos de uma semana estava com o resultado na mão. Ótimo, por sinal. 
          Aí vem a velha pergunta: e quem não pode pagar?  O que acontece com os pacientes sem um plano de saúde, inclusive o SUS, todo mundo conhece, todo mundo sabe, todo mundo vê.
          Mas não é demais recordar. Nos corredores dos hospitais públicos estão eles carecendo da mão amiga de um médico. Em alguns casos, o simples sorriso do doutor de branco bastaria para minorar-lhes o sofrimento. 
          O mundo precisa muito mais ( eu disse muito mais) da medicina caridosa. E a exercê-la, estarão os "médicos do amor" seguindo o exemplo dos santos Cosme e Damião. Tá?
          
          
                   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 21/09/2012
Reeditado em 18/10/2012
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