À quem interessa Legalizar a Maconha?
Jorge Linhaça
Volta e meia o assunto volta à baila:
Legalizar ou não legalizar a Maconha?
O debate gira sempre em torno dos mesmos argumentos, recolher impostos, falir os traficantes ( kakakakaka) , propriedades terapeuticas da Canabis, o alcool e o fumo já são legalizados e prejudicam a saúde "mais (?) que a maconha"...e por aí vai-se o corolário de argumentos, a favor e contra, que podem ser encontrados pesquisando-se na internet.
Fernando Henrique Cardoso foi eleito como "um tipo de padrinho" da campanha pró-legalização. Até natural já que em uma entrevista dada décadas atrás a uma revista, já havia dito que havia usado a erva. Isso custou-lhe uma acachapante derrota para Jânio Quadros. Mas isso são águas passadas.
Estranhamente FHC teima em lutar pela descriminização da maconha. Estranhamente? Bem eu não acho tão estranho assim.
FHC, embora relegado ao ostracismo político pelo próprio partido, continua a desejar a manutenção do poder por parte de seus correligionários.
Sempre que recebe alguma premiação o partido usa isso para elevar o moral de sua militância.
Não vou no entanto jogar toda a responsabilidade sobre os ombros do ex-presidente, muitos outros políticos gostariam de ver a maconha legalizada e se ainda não a legalizaram foi porque as pesquisas demonstram que mais de 76% da população são contra a liberação.
O interessante é que é justamente nas classes baixas que a reprovação se faz mais presente, diminuindo conforme a elevação da classe social...
Mas, afinal, a quem interessa a disseminação da maconha legalizada?
Aos mesmos que interessa a disseminação do crack.
A diferença é que o crack tem efeitos mais devastadores e acaba por ser uma faca de dois gumes para os políticos.
Em meu trabalho como agente penitenciário, muitas vezes ouvi que a maconha era até "tolerada" dentro da cadeia pois acalmava a massa prisional. Isso não quer dizer que não faziamos apreensões ou que éramos coniventes com a entrada da canabis nas celas.
Pois bem, é exatamente isso que me faz refletir.
Entre as propriedades atribuidas à marijuana está o efeito calmante e relaxante, a sensação de que o tempo passa mais devagar...o desligamento da realidade.
Por outro lado, atribui-se à maconha a destruição dos neurônios e a incapacidade de raciocinar de maneira coerente.
Controlar uma sociedade de usuários da erva, torna-se portanto muito mais fácil e tranquilo. Afinal, quem faz uso da droga não está nem aí para os problemas sociais ou se o mundo está caindo "lá fora".
Mesmo os auto-intitulados "usuários ocasionais" limitam as suas ações ( quando sóbrios ) ao que está em volta de seu próprio umbigo, pouco ou nada se importando com o que ocorre à sua volta já que recorrem ao seu "baseadinho" para abster-se da realidade que os cerca.
Alguns conjecturam que cada um é responsável por fazer uso do que lhes aprouver e alegam que o usuário da canabis não faz mal senão a si mesmo.
Nada mais ilusório, produtividade, capacidade de atenção, senso de realidade...tudo é prejudicado pelo uso da droga.
Ao votar, por exemplo, que julízo crítico pode-se esperar de quem está sob a influência de uns pegas ou com sua capacidade intelectual já comprometida?
Na realidade isso só interessa a quem quer manter-se no poder às custas de uma multidão de alienados, o que explica também a pouca atenção dada ao sistema de educação pública em nosso país.
A tenebrosa aprovação automática que se disseminou qual uma praga por vários estados e municípios, entre outras coisas impede que o aluno desenvolva uma autoestima baseada em seus resultados advindos de seu esforço em aprender e apreender, não apenas os conteúdos programáticos mas também todas a noções de cidadania que deveriam ser transmitidas nos bancos escolares.
É muito mais fácil controlar um povo que só se preocupe com drogas, futebol, bebidas e sexo, do que uma população que desenvolva um mínimo de senso crítico.
Por certo, uma população que encarasse as eleições como mais que uma final de campeonato entre dois times , haveria de nos trazer deliciosas surpresas nos resultados das eleições em todos os níveis.
Infelizmente os nossos partidos não podem nem mesmo ser repartidos por ideologia política, já que a presença das mais dispares coligações bem demonstra que a única ideologia envolvida é a da busca do poder.
Já o eleitor se deixa levar por certa simpatia por um candidato ou partido ou pela antipatia plena por outro, de maneira que inventou-se o tal voto útil..."se meu candidato não pode ganhar, ao menos vou votar em quem possa derrotar fulano".
Nas eleições periféricas, melhor nem comentar, vereadores, deputados, senadores, são eleitos ao "Deus dará" e a grande maioria dos eleitores nem sabe dizer em quem votou nas últimas eleições.
Assim sendo, liberar o uso da maconha só viria a piorar o quadro acima exposto para o povo em geral e melhorá-lo para os aproveitadores.
Talvez a indústria do cigarro acabasse se beneficiando, também, dessa liberação do uso da maconha.
Estranhamente, agora existe uma lei para acabar com os cigarros mentolados, ou de outros sabores, com a alegação de que essa saborização funciona como um atrativo para que os jovens comecem a fumar.
Nada se diz, no entanto, sobre as bebidas alcoólicas saborizadas, as conhecidas "ices".
Por outro lado, como se sabe, o uso de cigarros "caretas" não interfere no juízo de seu consumidor, já o alcóol...talvez esteja aí a resposta.
Tudo que pode desligar o indivíduo da realidade há de ser mais tolerado do que aquilo que, embora fisicamente, cause tanto danos quanto aqueles primeiros.
Não seria pois de se estranhar que os cigarros mentolados ou similares, fossem substituídos nos pontos de venda pelos cigarros de canabis.
Ingressaríamos, de vez, na era do controle social explícito, muito além do quarto poder representado pelos meios de comunicação.
Mentes pálidas, incapazes de sinapses avançadas, controladas por propagandas bem engendradas, incapazes de distinguir entre o coletivo e o individual, agindo como manadas sociais caminhando para o matadouro de seus próprios sonhos.
Parece que já vi essa história...
É essa a sociedade que alguns pretendem para nós.
É essa a sociedade que queremos ter?
Salvador, 20 de setembro de 2012.