SOBRE A MORTE
 
     É um dia ensolarado de primavera. Gosto do sol. A luz do dia me aclara as ideias. Há quem pense melhor à noite. Eu não; tenho medo da noite, um medo inexplicável, irracional. À noite, durmo. Dormir é ensaiar para a morte.        
     Mas, por mais que ensaiemos, ela nos continua misteriosa. Onde nos levará?
     O filósofo Montaigne disse: “Podemos, pelo hábito e a experiência, fortalecer-nos contra a dor, a vergonha, a indigência, etc. No que concerne à morte, só a podemos experimentar uma vez, e quando chega não passamos todos nós de aprendizes”.
     Eis aí um assunto que ninguém gostaria de aprender. Mas não há escolha. A morte é compulsória. É a última cláusula do contrato da vida. Cláusula irrevogável, irretratável, inegociável. Sem esse fecho, não haveria o contrato. E então, não existiríamos.
     A morte é a grande Esfinge que nos pede para decifrar o indecifrável. É o denominador comum entre o Ser humano e o desconhecido. É a linha de chegada de todas as corridas. É o melhor professor dos vivos. É a carruagem que nos leva ao fim do Tempo. É um trem no qual embarcamos rumo ao desconhecido.

      Durmo e sonho com a escuridão, uma escuridão espessa e profunda e aterrorizante. Corro na escuridão, sozinha, sem saber aonde vou. Alguém me persegue na escuridão, não sei quem é. Corro indefinidamente, não sei para onde. É um sonho recorrente.
     Se a morte for uma eterna escuridão eu não gostarei de morrer. Quererei desmorrer para reencontrar a claridade. 
Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 20/09/2012
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