Pelas ondas do rádio
Todos que me conhecem sabem da minha paixão pela música.
Desde menina, ouço rádio, hábito adquirido do pai, que há muito se foi dessa terra.
Naquele tempo, em que o rádio era o rei das comunicações, era por meio dele que sabíamos de tudo, ou quase tudo, o que acontecia no mundo. Pelas ondas do rádio ficávamos sabendo das novidades do mercado pelos anúncios sempre acompanhados de jingles divertidos; das notícias da política; ouvíamos as partidas de futebol; acompanhávamos as novelas (eram uma febre); os programas de auditório. Mas, o que mais me atraía na programação eram os programas musicais. As paradas de sucesso eram imperdíveis.
Minha curiosidade de criança me obrigava a questionar como era possível que uma caixa de madeira, com um tecido na frente e alguns botões, pudesse emitir o som de vozes e chiados (quando fora de sintonia), mas que não conseguíamos ver quem estava lá dentro? Os adultos não sabiam dar uma explicação compreensível. Desisti de tentar entender. Limitava-me a ouvir as músicas das quais eu tanto gostava e a viajar na imaginação ao som das vozes dos cantores que eu amava.
No final da década de 1960, a televisão chegou (na minha casa, pois em outras ela já fazia parte do mobiliário) oferecendo o milagre da imagem. Lembro-me de que quando Neil Armstrong pisou o solo lunar, eu assisti a tudo, sentada no chão da sala, em frente à TV, incrédula, atônita, completamente embasbacada. Seria verdade ou um truque de imagem? Era fantástico, extraordinário, o homem havia conseguido aterrissar na lua! Porém, mesmo com esse acontecimento histórico e com todas as imagens de outros acontecimentos que a televisão transmitia, não perdi meu fascínio pelo rádio.
Quando completei catorze anos, ganhei meu primeiro radinho de pilha. Nossa, que alegria! Era um aparelho amarelinho, transistorizado, funcionava à base de quatro pilhas grandes (consumidas muito rapidamente), que eu carregava para todos os lados. À noite, ele ficava no cantinho de minha cama, e eu o ouvia até altas horas. Nessa época, a Rádio Mundial era a emissora a que os jovens gostavam de estar sintonizados. Eu também, claro. Meus ídolos de adolescência, como Elton John, The Beatles (depois cada um deles em separado: John, Paul, George e Ringo), Pink Floyd, Led Zeppelin e tantos e tantos outros, estavam sempre comigo, em todos os momentos (com exceção do horário da escola).
A vida foi passando, e coisas, muitas coisas, foram acontecendo: estudei, me formei, casei, separei, casei de novo, criei meus filhos, aposentei, virei escritora e sempre com um rádio do lado. Já tive “n” modelos, de várias marcas, de todos os tamanhos. Às vezes, ouço CD’s, assisto a DVD’s, mas minha cachaça é o rádio. Quando estou fazendo minhas tarefas domésticas, quando estou produzindo textos (agora está tocando uma música linda de Victor e Léo: “aonde estão seus olhos...”), quando estou lendo, ou, simplesmente quando estou fazendo nada, apenas ouvindo, curtindo, viajando, imaginando, sentindo as letras, os acordes, tentando captar o som de cada instrumento (adoro o contra-baixo, amo o Bi Ribeiro do Paralamas do Sucesso). E tenho de confessar que algumas vozes de locutores, mexem com minha imaginação. É cada voz linda, envolvente, sensual. Gosto de voz grave.
Todas as manhãs, quando me levanto, faço as coisas que todo mundo faz: cuido da higiene, tomo o café da manhã. Mas, antes de fazer qualquer outra coisa, sintonizo uma estação de rádio. Dependendo do meu estado de espírito, sintonizo uma emissora de músicas mais calminhas ou de mais agitadas. E assim passo o dia: trabalhando e ouvindo música, construindo textos e ouvindo música, lendo e ouvindo música, navegando na internet e ouvindo música, enfim, vivo ouvindo música. Eu já não sei se a música não sai de mim ou se sou eu quem não sai dela.
Bendito seja “São Marconi”, o inventor do rádio, esse aparelho que sobreviveu ao tempo, que não sucumbiu diante de tantos equipamentos de alta tecnologia, que atravessa gerações levando entretenimento, vários tipos de serviços e música a todos os lugares. O rádio está em casa, no carro, no escritório, no estádio, no bar. O rádio está onde a gente estiver: na cidade ou no campo. É democrático, é acessível a todas as pessoas.
Há uma música da banda Titãs de que eu gosto muito – Sonífera ilha – e que resolvi usar um trechinho para ilustrar esse texto:
“Não posso mais viver assim ao seu ladinho
Por isso colo meu ouvido no radinho de pilha
Pra te sintonizar sozinha, numa ilha
Sonífera ilha, descansa meus olhos
Sossega minha boca, me enche de luz...”
Viram? O rádio pode estar com a gente até numa ilha deserta. Lá, com certeza, não deve “pegar” o celular, nem a internet...
Desde menina, ouço rádio, hábito adquirido do pai, que há muito se foi dessa terra.
Naquele tempo, em que o rádio era o rei das comunicações, era por meio dele que sabíamos de tudo, ou quase tudo, o que acontecia no mundo. Pelas ondas do rádio ficávamos sabendo das novidades do mercado pelos anúncios sempre acompanhados de jingles divertidos; das notícias da política; ouvíamos as partidas de futebol; acompanhávamos as novelas (eram uma febre); os programas de auditório. Mas, o que mais me atraía na programação eram os programas musicais. As paradas de sucesso eram imperdíveis.
Minha curiosidade de criança me obrigava a questionar como era possível que uma caixa de madeira, com um tecido na frente e alguns botões, pudesse emitir o som de vozes e chiados (quando fora de sintonia), mas que não conseguíamos ver quem estava lá dentro? Os adultos não sabiam dar uma explicação compreensível. Desisti de tentar entender. Limitava-me a ouvir as músicas das quais eu tanto gostava e a viajar na imaginação ao som das vozes dos cantores que eu amava.
No final da década de 1960, a televisão chegou (na minha casa, pois em outras ela já fazia parte do mobiliário) oferecendo o milagre da imagem. Lembro-me de que quando Neil Armstrong pisou o solo lunar, eu assisti a tudo, sentada no chão da sala, em frente à TV, incrédula, atônita, completamente embasbacada. Seria verdade ou um truque de imagem? Era fantástico, extraordinário, o homem havia conseguido aterrissar na lua! Porém, mesmo com esse acontecimento histórico e com todas as imagens de outros acontecimentos que a televisão transmitia, não perdi meu fascínio pelo rádio.
Quando completei catorze anos, ganhei meu primeiro radinho de pilha. Nossa, que alegria! Era um aparelho amarelinho, transistorizado, funcionava à base de quatro pilhas grandes (consumidas muito rapidamente), que eu carregava para todos os lados. À noite, ele ficava no cantinho de minha cama, e eu o ouvia até altas horas. Nessa época, a Rádio Mundial era a emissora a que os jovens gostavam de estar sintonizados. Eu também, claro. Meus ídolos de adolescência, como Elton John, The Beatles (depois cada um deles em separado: John, Paul, George e Ringo), Pink Floyd, Led Zeppelin e tantos e tantos outros, estavam sempre comigo, em todos os momentos (com exceção do horário da escola).
A vida foi passando, e coisas, muitas coisas, foram acontecendo: estudei, me formei, casei, separei, casei de novo, criei meus filhos, aposentei, virei escritora e sempre com um rádio do lado. Já tive “n” modelos, de várias marcas, de todos os tamanhos. Às vezes, ouço CD’s, assisto a DVD’s, mas minha cachaça é o rádio. Quando estou fazendo minhas tarefas domésticas, quando estou produzindo textos (agora está tocando uma música linda de Victor e Léo: “aonde estão seus olhos...”), quando estou lendo, ou, simplesmente quando estou fazendo nada, apenas ouvindo, curtindo, viajando, imaginando, sentindo as letras, os acordes, tentando captar o som de cada instrumento (adoro o contra-baixo, amo o Bi Ribeiro do Paralamas do Sucesso). E tenho de confessar que algumas vozes de locutores, mexem com minha imaginação. É cada voz linda, envolvente, sensual. Gosto de voz grave.
Todas as manhãs, quando me levanto, faço as coisas que todo mundo faz: cuido da higiene, tomo o café da manhã. Mas, antes de fazer qualquer outra coisa, sintonizo uma estação de rádio. Dependendo do meu estado de espírito, sintonizo uma emissora de músicas mais calminhas ou de mais agitadas. E assim passo o dia: trabalhando e ouvindo música, construindo textos e ouvindo música, lendo e ouvindo música, navegando na internet e ouvindo música, enfim, vivo ouvindo música. Eu já não sei se a música não sai de mim ou se sou eu quem não sai dela.
Bendito seja “São Marconi”, o inventor do rádio, esse aparelho que sobreviveu ao tempo, que não sucumbiu diante de tantos equipamentos de alta tecnologia, que atravessa gerações levando entretenimento, vários tipos de serviços e música a todos os lugares. O rádio está em casa, no carro, no escritório, no estádio, no bar. O rádio está onde a gente estiver: na cidade ou no campo. É democrático, é acessível a todas as pessoas.
Há uma música da banda Titãs de que eu gosto muito – Sonífera ilha – e que resolvi usar um trechinho para ilustrar esse texto:
“Não posso mais viver assim ao seu ladinho
Por isso colo meu ouvido no radinho de pilha
Pra te sintonizar sozinha, numa ilha
Sonífera ilha, descansa meus olhos
Sossega minha boca, me enche de luz...”
Viram? O rádio pode estar com a gente até numa ilha deserta. Lá, com certeza, não deve “pegar” o celular, nem a internet...