O PESQUEIRO
Por volta da metade dos anos 70, alguns colegas da
Procuradoria da Prefeitura de São Bernardo do Campo, entre eles eu,
todos amantes da pescaria, resolvemos comprar uma chacrinha no
Município de Buri, interior de São Paulo, à beira do Rio Buri, bem na
confluência com o Rio Paranapanema. Cinco mil metros quadrados de
área, com um pomar formado, uma casinha bem simples, sem força
elétrica. Acomodação para pescador, melhor do que uma barraca de
acampamento. Único problema, os 250 km de estrada.
Os primeiros 10 anos foram bem aproveitados. A cada dois meses, ia
eu, ou com alguns dos colegas, ou com amigos, às vezes levava os
filhos mais velhos. Uma das vezes, fui com toda a família. Sem
condições de acomodar todos, ficamos num hotel em Itapetininga
para dormir, e passar o dia na chácara. Assim, também, o colega
José Romeu Ceroni, com sua mulher e um casal de filhos. A menina,
hoje, é a atriz Vanessa Gerbelli. Lembro-me, perfeitamente, da
algazarra feita pela criançada. Aproveitando o excesso de água saído
da caixa cheia, pelo ladrão, utilizaram o jato como uma verdadeira
queda-d’água, e se lambuzaram com a lama formada no chão de
terra. Da cabeça aos pés. Isso, posso comprovar, com toda a certeza,
ficou marcado na mente das crianças, como raro acontecimento,
lembrado até hoje por meus filhos.
Em outra ocasião, indo com os dois filhos mais velhos, com um amigo
e seu filho, passamos um fim de semana no pesqueiro. Os meninos
se divertiram às pampas. Era época de laranja, estando os pés da
fruta bem carregados. Fizeram guerras de bagaço. Um tal de atirar
laranja para cá e para lá. Após alguns dias, já de volta a Santo
André, o amigo me liga, dizendo que precisou levar o filho ao
hospital, a fim de ser retirado um berne que nasceu no couro
cabeludo do menino. A mosca, certamente, na brincadeira, havia
depositado um ovinho na cabeça dele.
Abro um parêntesis. Desde então, me convenci de que para as
crianças, o campo, a montanha, em tudo supera a praia. O contato
com a natureza é muito maior! Além desta, há os animais! Conhecem
a origem do leite, do ovo. As frutas, os legumes, as verduras. Isso
tudo é muito importante para a formação da criança. Não nos
esquecendo da sensação de liberdade que se lhe oferece. Fechado o
parêntesis.
Porém, a história mais engraçada aconteceu quando fui com um tio
da Iara, minha mulher, o saudoso Tio Zeca, e mais alguns outros.
Claro que, sempre, fazíamos churrasco. Usava-se um miolo de
máquina de lavar roupas, como churrasqueira, que ficava instalada
perto da porta, atrás da casa. Deixei as carnes em cima da pia da
cozinha, e fomos pescar. Ali pelas 11:00h resolvi dar uma subidinha
até a casa, numa distância de uns 80 metros do rio. Aproveitaria para
fazer a caipirinha. Ao me aproximar da casa, o cachorro do vizinho,
que havia lá entrado, saiu numa disparada, com um gomo da linguiça
na boca, e os restantes sendo arrastados pelo chão. Adeus linguiça!
O mais fanático dos pescadores era o João Carlos Basso.
- Na beira do rio, dizia, passos de balé!
Foram muitas as cenas hilariantes passadas naquele recanto tão
agradável. Há uns trinta anos que não volto lá.
Deixei para o fim, o comentário de Campininha do Monte Alegre. É
um município nascido da separação de Angatuba. Era a passagem
obrigatória para se chegar ao rancho. O melhor caminho. Mais curto.
Um lugar bucólico, à beira do Paranapanema. Ali fazíamos as
compras. Pacato, e que quando se tornou município, a própria
população é quem administrou a cidade, sem ônus para os cofres
públicos. Um exemplo de cidadania. Não tenho conhecimento se isso
perdura até hoje.
Tenho, isso sim, muita saudade daquele tempo!