NA HORA, O "H" CONSTRANGE
Mais conhecida que a própria arte, o carnavalesco Joãozinho Trinta deixou a antítese de um período: “Pobre gosta de luxo, intelectual gosta de miséria”. Composto por duas coordenadas assindéticas, a primeira oração parece-me verdadeira; a segunda não me é convincente. Pobre pode gostar mesmo não tendo; mas deseja. Intelectual finge gostar do que não quer, mas é disso que tira proveito. Miséria inspira poesia e prosa, música, teatro, artes em geral e, aqui no Brasil, o cinema especialmente. Nosso lixão não foi agraciado com The Oscar going to, mas é o que tem atraído pobres e ricos, ignorantes e intelectuais à mais popular diversão deste país: a televisão. Em meio a essa massa, os pseudos intelectuais são os que mentem não vê-la.
O luxo do pobre pode começar pelo prenome grafado com letras dobradas: nn, ll, tt, ou os arcaicos th, ph e outros artifícios associados ao simplório sobrenome. É só desta forma que o pobre alcança o estrangeirismo. O rico, curiosamente, simplifica o prenome; mas supervaloriza o sobrenome, se não pela tradição, pelo dinheiro que o fez emergente, intelectual ou não. São estes que têm como obrigação falar fluentemente o inglês, e fazem do português a mal falada língua.
Pobres gostam de luxo, mesmo os que vivem no lixo. Intelectuais gostam de miséria, mas só no telão ou na telinha. Os primeiros comem churrasquinho de gato, os segundos se empanturram de Big Mac e Burger king. Não gosto de nenhum dos três. Seja por não ser pobre, tampouco por não ser rico, mais e principalmente por não ser intelectual. Aliás, por saber que intelectual rima com Bial, muitas intelecções me assustam.
Prefiro e volto à questão dos nomes, não sem antes tirar uma casquinha filosófica: o nome faz a língua ou a língua é que faz o nome?
O meu, por exemplo; nada tem de original, embora que raro. Não conheço outro Hermílio além do meu pai. Sei que existem outros; até no Chile. Mas fico bravo quando me atribuem vários prenomes, menos o meu, e corretamente. E é muito raro também não ter que soletrá-lo, começando por explicar: Hermílio com H, lio no final... Parece até paródia àquela expressão que aqui não repito. Que coisa mais chata ouvir alguém me chamar de Hermínio (odeio!). Emílio, (ôpa, quase acertou ao confundir-me com um personagem de Rousseau!), Ermírio (E ainda fazem aquela gozação sem graça: Ermírio de Moraes?). Então, respondo: não; Pinheiro de Macêdo, com muito gosto. Ermilho (com E inicial e lho final, é dose!). Para encerrar este assunto, vem a propósito:
O h inicial e final *
1. Emprega-se o h inicial:
a) em razão da origem da palavra: homini (latim), homem.
b) por adoção convencional: hã?, hem?, hum!,
2. Elimina-se o h inicial:
a) Quando, apesar da etimologia, o uso consagrou sua supressão: erva, em vez de herva.
b) Nos vocábulos compostos em que o segundo elemento, com h inicial, se aglutina ao primeiro: re- + habilitar = reabilitar
3. Mantém-se o h inicial do segundo elemento de vocábulos compostos e derivados, ligado ao primeiro por meio de hífen: sobre-humano.
4. Emprega-se o h final em interjeições: ah!.
Bom, que me perdoem os adeptos às mini crônicas. A eles, com bom humor repito: o mini só tem valor quando conta o que o máximo não diz.
Pobre, rico ou intelectual, não é o nome que vale; mas o homem a toda hora. Esta também com h. E no final desta crônica, leitor, preste-lhe atenção ao título; pobre, mas quase intelectual: na hora é algo imediato; na hora h é como a letra; explicá-la constrange.
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* Português - Ortografia I - Instituto Antônio Houaiss - Azevedo, José Carlos de.
Mais conhecida que a própria arte, o carnavalesco Joãozinho Trinta deixou a antítese de um período: “Pobre gosta de luxo, intelectual gosta de miséria”. Composto por duas coordenadas assindéticas, a primeira oração parece-me verdadeira; a segunda não me é convincente. Pobre pode gostar mesmo não tendo; mas deseja. Intelectual finge gostar do que não quer, mas é disso que tira proveito. Miséria inspira poesia e prosa, música, teatro, artes em geral e, aqui no Brasil, o cinema especialmente. Nosso lixão não foi agraciado com The Oscar going to, mas é o que tem atraído pobres e ricos, ignorantes e intelectuais à mais popular diversão deste país: a televisão. Em meio a essa massa, os pseudos intelectuais são os que mentem não vê-la.
O luxo do pobre pode começar pelo prenome grafado com letras dobradas: nn, ll, tt, ou os arcaicos th, ph e outros artifícios associados ao simplório sobrenome. É só desta forma que o pobre alcança o estrangeirismo. O rico, curiosamente, simplifica o prenome; mas supervaloriza o sobrenome, se não pela tradição, pelo dinheiro que o fez emergente, intelectual ou não. São estes que têm como obrigação falar fluentemente o inglês, e fazem do português a mal falada língua.
Pobres gostam de luxo, mesmo os que vivem no lixo. Intelectuais gostam de miséria, mas só no telão ou na telinha. Os primeiros comem churrasquinho de gato, os segundos se empanturram de Big Mac e Burger king. Não gosto de nenhum dos três. Seja por não ser pobre, tampouco por não ser rico, mais e principalmente por não ser intelectual. Aliás, por saber que intelectual rima com Bial, muitas intelecções me assustam.
Prefiro e volto à questão dos nomes, não sem antes tirar uma casquinha filosófica: o nome faz a língua ou a língua é que faz o nome?
O meu, por exemplo; nada tem de original, embora que raro. Não conheço outro Hermílio além do meu pai. Sei que existem outros; até no Chile. Mas fico bravo quando me atribuem vários prenomes, menos o meu, e corretamente. E é muito raro também não ter que soletrá-lo, começando por explicar: Hermílio com H, lio no final... Parece até paródia àquela expressão que aqui não repito. Que coisa mais chata ouvir alguém me chamar de Hermínio (odeio!). Emílio, (ôpa, quase acertou ao confundir-me com um personagem de Rousseau!), Ermírio (E ainda fazem aquela gozação sem graça: Ermírio de Moraes?). Então, respondo: não; Pinheiro de Macêdo, com muito gosto. Ermilho (com E inicial e lho final, é dose!). Para encerrar este assunto, vem a propósito:
O h inicial e final *
1. Emprega-se o h inicial:
a) em razão da origem da palavra: homini (latim), homem.
b) por adoção convencional: hã?, hem?, hum!,
2. Elimina-se o h inicial:
a) Quando, apesar da etimologia, o uso consagrou sua supressão: erva, em vez de herva.
b) Nos vocábulos compostos em que o segundo elemento, com h inicial, se aglutina ao primeiro: re- + habilitar = reabilitar
3. Mantém-se o h inicial do segundo elemento de vocábulos compostos e derivados, ligado ao primeiro por meio de hífen: sobre-humano.
4. Emprega-se o h final em interjeições: ah!.
Bom, que me perdoem os adeptos às mini crônicas. A eles, com bom humor repito: o mini só tem valor quando conta o que o máximo não diz.
Pobre, rico ou intelectual, não é o nome que vale; mas o homem a toda hora. Esta também com h. E no final desta crônica, leitor, preste-lhe atenção ao título; pobre, mas quase intelectual: na hora é algo imediato; na hora h é como a letra; explicá-la constrange.
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* Português - Ortografia I - Instituto Antônio Houaiss - Azevedo, José Carlos de.