Estrela cadente
Quando a estrela invadiu a janela do seu quarto, com o lençol se cobriu, e como nunca quis, aquela noite quis dormir no escuro.
Mil moribundos, vendo mil luzes no fim do túnel não veriam tanta claridade, ela viu tão adiante, e também para trás viu muito distante, distante é coisa séria, parecia que via a saudade. Passado o primeiro susto, passou a gostar de enxergar, atrás do guarda-roupa, onde ali não cabia, viu seu sapato perdido, que julgava que o folclore havia levado.
Também viu com clareza, todas as vezes que havia perdoado, e entendeu como tantas vezes deveria ter se mantido calada.
Viu assim a vileza da inveja: um vaga-lume girava ao redor do astro, sem mostrar vontade de ser tão grande como ele, entendia que uma estrela é uma luz maior.
Com a estrela procurou valores perdidos, enxergou trevas, para as quais havia fechado os olhos; passou por frestas por onde julgava não conseguir passar.
-Se esta estrela partir, vou querer um candeeiro maior, uma lanterna com mais pilhas, quero ver se aquele abismo, realmente, eu não consigo saltar.
E a estrela já descansada, ou já tendo mostrado tudo que tinha de mostrar, subiu para o infinito novamente, e a menina entendeu que uma luz que tudo nos faz ver, não poderia ser só dela, tem mesmo que morar no céu.