A MORTE EM NÓS

A morte em nós...

(Dedicado a uma senhora amiga)

É assim: Olhamos para uma pessoa, a beijamos e, assim de repente, não mais que de repente descobrimos que este foi o último olhar, o último abraço, o último aconchego... A morte é assim: às vezes, chata!

Ao menos poderia avisar um pouco...

“Minha estrelinha, minha bonequinha” - era assim que ela, Dona Brasil, me chamava todas as vezes que vinha ao meu encontro. Apesar do pouco convívio tem pessoas que nos marcam.

Hoje, lembrei com saudade desse último encontro.

O natal estava próximo. Chovia forte. Mesmo assim, resolvemos caminhar em direção à estação do metrô. Durante a caminhada sorrimos, brincamos e, até poetizamos alguns versinhos de infância.

Por fim, o último abraço e seu beijo carinhoso em minha testa. Nesse momento, senti uma leve brisa de partida no ar, mas a vida agora é assim, tão corrida que não dá tempo digerir com delicadeza e serenidade as coisas à nossa volta.

Esqueci até de desejar-lhe em clima de festa um enfático FELIZ NATAL!! FELIZ ANO NOVO!!

Foi assim...Serviu de reflexão...

Hoje, se já costumo dizer as pessoas o quanto amo cada uma delas; agora então direi ainda mais. Expressarei ainda mais...

Gosto cada vez mais de conversar com as pessoas olhando bem nos seus olhos.

Nunca se sabe. Talvez, seja o último olhar...

Talvez aquela vida seja passageira em mim, talvez mais frequente, talvez me ensine algo, talvez precise de mim; ou quem sabe eu dela...talvez não aconteça nada disso, mas pensando bem cada pessoa deveria ser preciosa aos nossos olhos...

Quanto mais aquelas a quem amamos ou lhe dedicamos algum afeto...

Morte! Morte ! OH Morte!

Por que arrancais de nós um pouco de nós mesmos...?

MORTE! OH MORTE! Oh! trem de despedida para outras paragens

Oh! Navio a navegar outros mares. Oh! Portal com novo bilhete de passagem em nós...

Oh! Nova cortina a abrir-se e desvendar novos horizontes...

Morte! Oh Morte!! Que viagem às vezes desmedida.

E, outras vezes, tão tranquila num sono adormecido e despertado em outra cama..

Morte! OH Morte!

Melhor realmente não avisar que o passageiro está de partida. Ou, se desejar avisar, que ao menos fique em nós a sensação da alegria do reencontro. Simples assim: Com aquela gostosa sensação de férias e descanso criativo...

Todos os povos choram muito os seus mortos. Parece que, nesse momento, nos apercebemos que o outro é também um pouco nós mesmos.

Ah! que bom seria se pudéssemos sentir isso sempre; sentir esse espelho bem vivo à nossa frente; assim, s i m p l e s m e n t e assim, não machucaríamos nunca mais o outro.

Recife, 20 de janeiro de 2007.

Fátima Arar
Enviado por Fátima Arar em 18/09/2012
Reeditado em 12/12/2020
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