MARIA JOSÉ, UMA LEMBRANÇA INÚTIL
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Com passos firmes, determinados, cabelo no meio do rosto ao estilo “pega rapaz” caminhava como se bailasse elegantemente pela Avenida Adalberto Valle. Era bonita, tinha cabelos longos com uma metade do rosto coberto; outra, olhando talvez para os que lhe lançavam assobios e olhares também furtivos e delirantes, quase que em desespero de adolescentes querendo namorar!
Os meninos que jogavam bola na rua de areia, com traves feitas com sandálias havaianas no chão, a chamavam de Maria José, mas nunca descobri o nome completo daquela moça pela qual também suspirava sem demonstrar e que tanto a desejava namorando comigo. Mas ela sempre se desviava de meu caminho, mesmo quando permanecia exatamente no local onde ela passaria; simplesmente se desviava de meus galanteios infantis e passava para o outro lado da rua, seguindo seu caminhar tranquilo e elegantemente, pisando firme, mesmo que outros garotos lhe assobiassem para chamar a atenção.
Continuava a andar de cabeça baixa, parecendo que o chão fugiria de seus pés se não o olhasse; ou estaria procurando atentamente ao chão ainda nu, cocô de cachorro que sempre existia, para não pisar em cima dele? Será que estaria mesmo querendo evitar os vários montes de excrementos dos cachorros que furtivamente visitavam a rua para fazer suas necessidades fecais? Tenho dúvidas, mas não nunca provar se era por isso mesmo que andava sempre assim! Parecia até que flutuava acima da pista, tal o cuidado que olhava para o chão, com a elegância e leveza de seu andar!
Os meninos da rua diziam que andava de cabeça baixa por vergonha de não ser mais virgem; mas não sei. Acho que deveria ser por outra razão: um namorado, talvez! Falavam demais os meus amigos de bola no meio da rua. O certo é que todos paravam para vê-la passar e depois ficavam se interrogando o porquê de Maria José andar sempre com os cabelos longos dividindo-lhe o rosto em duas partes, uma coberta por e o outro descoberto como querendo pegar sol. Mas quem há de saber...!?
Dava um sorrisinho com o canto da boca, vez ou outra e rebolava mais ainda, provocava a garotada, mas não olhava para ninguém da rua na qual ela também residia. Será que ia se encontrar com seu namorado, durante o dia? Talvez! Mas, ah, como a desejava para mim, ao meu lado!
Mas o que faria, se a tivesse ao meu lado ou se ela pelo menos desse uma olhada de leve para mim? Talvez, nada! Talvez ficasse tão acanhado que não saberia o que fazer...Mas Maria José nem olhava para mim, nem para ninguém. Mas também era moderna a Maria José. Foi à primeira mulher que vi usando calças compridas justas ao corpo, no final da década de 70. Ela sempre usava vestido até a altura das coxas grossas e torneadas quando caminhava alegremente pela minha rua, mas um dia a vi usando calças compridas...Foi um espanto e um delírio gostoso para a garotada. Ah, como suspiraram, os meninos! Eu também suspirei mais fortemente nesse dia!
Nunca saberei relatar minhas dúvidas porque desde que casei, mudei do bairro da Betânia, nunca mais voltei e, anos depois quando retornei para realimentar minhas saudades e lembranças, Maria José também já não morava mais em frente à casa de Dona Raimundinha, esposa de um técnico em eletrônica, aonde muitas vezes também assistia a uma “televizinha” em preto e branco, pela janela da casa porque não podia pagar o “ingresso” para sentar no chão... Foi uma infância vivida no bairro da Betânia, com lembranças, saudades e delírios adolescentes!