O Brasil de cabelos brancos
Ao entrar em uma agência bancária, nesta semana, dirigi-me à fila onde deveria permanecer e aguardar atendimento. Enquanto isso, não pude deixar de perceber um fato curioso: a fila preferencial estava quilométrica. Percebi que havia muitos cabelos brancos ali. Alguns calmos, aguardando a sua vez, outros irritados, reclamando o tempo de espera.
É notório: nenhum país em desenvolvimento está amplamente estruturado para administrar uma dinâmica social tão evidente como o aumento da população idosa. No Brasil, a meu ver, não é diferente.
Vivemos uma dicotomia: percebemos as transformações pelas quais estamos passando no que se refere à presença ostensiva de idosos nas diversas repartições, todavia não se sabe exatamente como abarcá-los, envolvendo-os em atividades econômicas e/ou culturais. Ao invés disso, eles são marginalizados; são excluídos do mercado de trabalho; são entregues à ociosidade.
Estranha-me é saber que as pessoas com mais experiência, depois dos 50 ou 60 anos, por exemplo, possuem aquilo que os jovens tanto buscam, todavia isso não é motivo para que busquem troca de experiência, aprendizados. Os sexagenários já amaram, desamaram, amaram. Eles conhecem a economia brasileira e já viveram alguns de seus históricos caos. Para eles, as campanhas eleitorais estão apenas apresentando um novo capítulo, pois o final da novela é previsível. Eles sabem que as modas vêm e vão. Sabem que o consumismo tende a crescer cada vez mais. Que a família é, infelizmente, uma instituição quase falida. Que a boa educação faz parte apenas dos discursos eleitoreiros. Os cabelos brancos conhecem muitos segredos da alma.
Se o Brasil está ficando cada dia mais velho, precisamos também ter atitude de gente grande e criar mecanismos para manter essas pessoas mais experientes na ativa e com qualidade de vida. É importante que elas deixem de ser consideradas como estorvos e passem a ser um pilar de dinamismo da estrutura social. É preciso que haja mudança cultural com o propósito de respeitá-las e valorizá-las. Os idosos, assim como outras parcelas da sociedade, precisam de políticas públicas que incentivem a educação, a arte, a cultura; precisam de cuidados com a saúde; precisam estar envolvidos ativamente na política do país. Eles não podem passar em branco.