A tentação da vingança

Por mais que se propague a nobreza do perdão, devemos admitir que a tentação da vingança é fortíssima, principalmente se achamos que quem nos prejudicou não recebeu a punição que merecia. A vingança é um instinto comum a todos nós, seres humanos e, nobre ou não, é natural. Ninguém gosta de sofrer um dano e ver o autor desse dano sair impune. É um desejo normal ver o mal que sofremos ser reparado e a justiça ser feita e, se o culpado pelo que sofremos não recebeu o castigo que consideramos merecido, a fome de revanche pode ficar insuportável.

Nossa educação cristã nos fala em dar a outra face mas, sejamos sinceros, quem dará a outra face? A nossa vontade mesmo é de revidar e, se possível, com mais força, para que o outro não saia com a certeza de que não sofrerá nada. O problema é que, se estivermos com muita raiva ou mágoa, nossa vingança poderá ser inversamente proporcional ao mal que nos foi feito e isso pode acontecer principalmente se a vingança demorar a acontecer, porque o vingativo ficará ruminando seus ressentimentos, amargurado pela sensação de que não houve a justiça que ele supõe que deveria ter sido feita em seu caso.

Um fator que pode agravar o desejo de vingança é que o autor do mal que queremos punir, possivelmente nem lembra do que fez ou mesmo de nós e é terrível para uma pessoa sentir que teve seus sentimentos tratados como se fossem insignificantes. Isso é um fator muito favorável ao nascimento de um sentimento bastante perigoso: o ódio.

O ódio faz com que percamos a capacidade de medir as consequências dos nossos atos e, no nosso desejo de nos vingar, não percebemos que podemos nos transformar em pessoas piores do que aquelas a quem queremos punir. Antes de dar andamento a um plano de vingança, é bom que reflitamos bem e nos perguntemos: valerá a pena? No que nos transformaremos depois? Não poderemos fazer com que gente sem culpa nenhuma sofra por causa do que pretendemos fazer?

Se não estamos dispostos a perdoar, não perdoemos. Apenas nós sabemos o tamanho do sofrimento que nos foi infligido mas, cuidado com desejos de vingança. O ódio desperta características monstruosas que estão adormecidas em nós.

Pensei nisso ao ver a foto de uma pessoa que me fez muito mal no Facebook. Passei mal e chorei ao ver a expressão feliz em seus olhos, vendo-o abraçado à filha, sendo chamado de alma perfumada.Fiquei mal porque ele me perseguiu e inventou mentiras contra mim e ninguém me ajudou. Foi uma época em que eu me senti muito sozinha e aterrorizada e ninguém parecia se importar com o fato de um covarde me perseguir injustamente. Tive vontade de me vingar, mandando uma carta anônima à filha, dizendo tudo o que ele me fizera, mas pensei: isso não seria uma sujeira? Eu não me tornaria tão suja quanto ele? Desisti da vingança. Isso não significa que o perdoei, apenas que não quero fazer nada monstruoso. Não seria justo eu destruir a felicidade de uma criança. E ele fez isso comigo, fazendo eu me sentir odiada e insignificante.