MAU CARÁTER

Na verdade, o que carece uma sociedade medíocre é de um senso apurado de caráter. Lhe falta moralidade do bem comum e ética social. Não estou falando dessa moral de apontar o dedo na cara um do outro, mas uma moral enraizada no zelo do que é público, social e comum a toda coletividade de um único meio unida por certos dogmas culturais e costumeiros.

Bom, e é esse tipo de carência a culpa de toda desilusão de uma sociedade que tem no individualismo a fonte suprema de convivência: a carência do espírito público.

Por isso afirmo: o problema de uma sociedade hipócrita é cultural e costumeiro... É a tal eterna ausência do caráter público e pacifista. Pois muita gente pensa que apoiar e zelar pelo que é público é somar para dividir com poucos. Não, claro que não. É, na verdade, somar para multiplicar entre todos na exata medida das necessidades.

Ora, de que adianta querer ultrapassar o sinal vermelho, mas morrer na encruzilhada? De que adianta desviar dinheiro da educação, o aluno não ir pra aula, se tornar um marginal e no mesmo sinal vermelho, meter a arma na tua cara, roubar teu carro e te dar um tiro? De que adianta vender o voto, receber “cem paus” e não ter sequer um remédio pra dor de garganta no posto de saúde?

Numa sociedade medíocre, tanto o cidadão comum, como o político, ainda não perceberam que política é a arte da confiança, não da esperança; que política é a arte da TROCA, não do TROCO.

Em sociedade desse tipo – medíocre e hipócrita – reverencia-se a cultura da esperteza em prejuízo da cultura da honestidade. O que é uma falha no âmago da coletividade.

Até porque, não tem clichê mais idiota que o tal do “o mundo é dos mais espertos”. É não. O mundo é dos mais ousados; o mundo é dos mais persistentes; o mundo é dos mais diplomatas; o mundo é dos mais decentes; o mundo é dos mais honestos...

Enfim, o mundo é dos mais sábios, não dos mais “espertos”.

Assim sendo, infelizmente, muita gente cresce com a cultura e o costume de que é digno ser esperto, não ser honesto.

Isso faz com que cada ano adiante no milênio, a sociedade regrida uma década de mediocridade e insignificância.

(Trecho do meu 'MANIFESTO TEÓRICO À HIPOCRISIA DO PODER)