Primeiro e Último

Tenho pensado muito em você nesse dias. É uma saudade perversa, meio cruel com as memórias que guardo de nós dois. Memórias tão doces, de te olhar nos olhos, enquanto sua cabeça repousava em meu colo; olhos grandes, inocentes, como os de uma criança. E em pensar que era apenas a primeira vez que nos encontrávamos. Eu podia me reconhecer no seu olhar, e me sentir confortável, protegido. Era uma sensação inédita para alguém que nunca tinha experimentado a felicidade.

E, tão logo você chegou, você partiu. A despedida só me faz pensar que éramos tão criança, tão bobos. Dois garotos, parados ali no ponto de ônibus, eu olhando você partir, me perguntando quando e, mais importante, se o veria outra vez. Já sentia saudades, já sentia sua falta. Já me sentia incompleto. Nos veríamos outras vezes nos meses seguintes, sim. Os meses mais felizes da minha vida.

Mas, apesar da alegria implacável por amar você e de todos os planos e idéias que alimentava de ficarmos juntos, eu sabia que jamais conseguiria ficar com você para sempre. Era um misto de medo e premonição. E eu te disse isso, na noite em que passamos na minha cama, ouvindo música. “Você está saindo da minha vida, e parece que vai demorar. Se não souber voltar, ao menos mande notícias”. Você achou que eu estivesse louco, mas eu sabia que as coisas se encaixariam.

Você foi embora. Eu estava de mãos atadas. Queria pedir que não fosse embora, mas não podia. Tenho certeza que não funcionaria. Pensei que poderia ir atrás de você. É engraçado... O que uma criança como eu poderia fazer indo atrás de você? E, olhando pra trás, hoje, eu sei que você não queria isso. Quando você me disse que não poderíamos ficar juntos, porque as circunstâncias eram complicadas demais, eu sabia que não haveria volta ou remédio. Eu planejava te ganhar, mesmo sabendo que já tinha te perdido. Eu perdi.

Hoje, eu sinto meu coração se contorcer toda vez que penso: “será que ele ainda pensa em mim? Será que ele ainda lembra de mim? Do que a gente viveu? Ou será que, depois de tanto tempo, ele se esqueceu?”

Eu lembro.

Contra todas as possibilidades, contra todas as amarguras, contra todas as derrotas e cicatrizes que colecionei desde que você partiu, as memórias de nós dois, na minha cama, na primeira vez que ficamos, ou o nosso passeio pela praça tomando sorvete, ou a primeira vez que vi seu corpo nu na escuridão… Essa são memórias imaculadas. Eu lembro.

Você foi meu primeiro amor. E será o último.