Meu pai e as Laranjas
Tarde quente de domingo. Meu pai sentava-se nos degraus da cozinha, descalço e sem camisa, segurando um grande saco de laranjas-lima e uma faquinha. Ia descascando as laranjas e jogando as cascas no chão, enquanto saboreava uma a uma. Nunca vi ninguém comer tantas laranjas de uma só vez!
O sumo escorria-lhe pelo queixo. Ele cuspia os caroços no chão de terra, mas engolia os bagaços. De vez em quando, ele chamava minha mãe: "Prova só, Ruth! Doce que nem mel!" E minha mãe juntava-se a ele.
Às vezes, ele olhava para mim, pequenininha, e perguntava: "Quer uma?" E eu dizia que sim, mas pedia que ele fizesse 'janelinha' - um corte mais ou menos no final do corpo da laranja, que deixava o topo pendurado. E eu jogava a casca da laranja por cima do ombro, pois acreditava que quando ela caísse no chão, mostraria a primeira letra do nome do meu futuro marido.
E eu ficava abaixada, tentando adivinhar letras nas formas sinuosas da casca da laranja...
Depois que terminava, ele recolhia as cascas em um saco e varria os caroços. O sol se punha no horizonte.
Assim era a vida: doce que nem mel!
* * *
Imagem: da autora