Fachada da Biblioteca Demonstrativa de Brasília,
recentemente rebatizada de Biblioteca Maria da Conceição Moreira Salles,
em homenagem à ex-diretora da instituição, falecida no início deste ano,
após anos de dedicação à literatura, à arte e à cultura de Brasília.
Uma Tarde Crônica
Há alguns dias, recebi da amiga Carmen Gramacho, um convite lisonjeiro: apresentar uma palestra para o Grupo de Atualização da Mulher que, toda semana, há mais de vinte e oito anos, reúne senhoras na Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB).
O tema proposto, talvez por minha participação como cronista no Jornal Alô Brasília, foi justamente este: crônicas. Paradoxalmente, senti-me empolgada e temerosa. Empolgada, claro, pois falar de literatura sempre me seduz. Temerosa, porque não sou uma teórica do assunto. Ainda mais um assunto controverso como é a crônica, sobre o qual os maiores estudiosos ainda não conseguiram consenso e sobre o qual o próprio Luís Fernando Veríssimo, um dos maiores nomes da crônica brasileira sugere em seu divertido texto A Crônica e o Ovo: "o que sair, é crônica".
Carmen tranquilizou-me: não seria uma aula, apenas um compartilhamento de experiência. É claro que, mesmo apenas para compartilhar minha experiência, não ia chegar lá, despreparada. Já sabia que iria encontrar mulheres inteligentes e cheias de curiosidade, que poderiam deixar-me numa bela saia justa com suas perguntas.
Fiz uma pequena pesquisa, montei um resuminho e selecionei alguns textos meus (em sua maioria) e de autores consagrados, para exemplificar os conceitos apresentados.
No final, propus um desafio: escrevermos juntas uma crônica sobre o evento. Logo as ideias foram surgindo aos borbotões, parágrafos plenos de poesia e sensibilidade, cronicamente femininos. Odiei-me por nunca ter aprendido taquigrafia. Na empolgação, elas despejavam parágrafos inteiros como quem semeia rosas e eu mal conseguia pegar algumas pétalas. O resultado é o que se vê abaixo.
Saiu de casa apressada, na expectativa do encontro de todas as quartas-feiras. Desconhecia a palestra que a aguardava, mas estava certa de que seria um momento de alegria e descontração, um agradável contraponto à secura e ao enervante calor que se abatera sobre a cidade, nos últimos dias.
À chegada do prédio, foi recepcionada por três exuberantes ipês amarelos e um colibri de vestido cor-de-rosa, sempre munido de sua máquina fotográfica. Era Ana Paula, a coordenadora do grupo, flanando leve e gentil como sempre, o silencioso registro de tudo o que acontece ali.
Dirigiu-se logo à sala reservada e ficou surpresa ao encontrá-la ainda às escuras. Com a claridade vinda do corredor, pode divisar um vulto de mulher, notadamente, elegante, que a cumprimentou efusiva. Ousou acender a luz e confirmou o que já esperava: era Lúcia, sentada ali na penumbra, em sua postura, sempre muito ereta, reta e correta e que, no decorrer do evento, se revelaria uma grande intérprete.
Logo outras foram chegando. Fanny só pode vir, acompanhada de outra participante que lhe deu carona. Aldemita, enfrentando problemas de saúde do esposo que recentemente precisou submeter-se a uma cirurgia, em meio a uma longa e trabalhosa reforma, veio em busca de uma válvula de escape.
Carmen foi uma das grandes surpresas da tarde, festejada por todas as presentes, felizes por sua companhia sempre tão carismática. Mas, ela não podia mesmo faltar, já que foi dela a indicação da palestrante.
Inevitável lembrar-se da Conceição, que poderia estar ali. As imagens antológicas dessa que foi uma grande amiga de todas aquelas mulheres ali presentes foram surgindo, cada uma era capaz de repetir alguns de seus bordões. O mais famoso deles “este evento será imperdível!”. Ou, quando se referia ao grupo de mulheres como “este encontro que se repete há não sei quantos anos”. Sobre Ana Paula, a adorável anfitriã do grupo, Conceição costumava dizer que era seu braço direito, e também o esquerdo.
Carmen encerrou essa deliciosa criação coletiva, enaltecendo a presença de todas aquelas mulheres ali, com seus três quilos a mais (em referência a uma das crônicas lidas durante o encontro ) e até alguns quinze anos a mais que a palestrante.
Outras ideias surgiram, outras impressões foram levantadas, mas eu não consegui registrá-las todas, o que é mesmo uma pena.
Também, por uma questão de modéstia, censurei os milhares de elogios feitos à qualidade da referida palestrante (eu!!!). Ainda mais que todos foram feitos pela mamãe.
Brincadeiras à parte (mesmo porquê, mamãe nem estava lá!), só tenho mesmo que agradecer o convite e a oportunidade. Para mim, foi excelente estar entre essas pessoas maravilhosas, receptivas, participativas e animadas.
Que venham outros encontros!!
O tema proposto, talvez por minha participação como cronista no Jornal Alô Brasília, foi justamente este: crônicas. Paradoxalmente, senti-me empolgada e temerosa. Empolgada, claro, pois falar de literatura sempre me seduz. Temerosa, porque não sou uma teórica do assunto. Ainda mais um assunto controverso como é a crônica, sobre o qual os maiores estudiosos ainda não conseguiram consenso e sobre o qual o próprio Luís Fernando Veríssimo, um dos maiores nomes da crônica brasileira sugere em seu divertido texto A Crônica e o Ovo: "o que sair, é crônica".
Carmen tranquilizou-me: não seria uma aula, apenas um compartilhamento de experiência. É claro que, mesmo apenas para compartilhar minha experiência, não ia chegar lá, despreparada. Já sabia que iria encontrar mulheres inteligentes e cheias de curiosidade, que poderiam deixar-me numa bela saia justa com suas perguntas.
Fiz uma pequena pesquisa, montei um resuminho e selecionei alguns textos meus (em sua maioria) e de autores consagrados, para exemplificar os conceitos apresentados.
No final, propus um desafio: escrevermos juntas uma crônica sobre o evento. Logo as ideias foram surgindo aos borbotões, parágrafos plenos de poesia e sensibilidade, cronicamente femininos. Odiei-me por nunca ter aprendido taquigrafia. Na empolgação, elas despejavam parágrafos inteiros como quem semeia rosas e eu mal conseguia pegar algumas pétalas. O resultado é o que se vê abaixo.
Saiu de casa apressada, na expectativa do encontro de todas as quartas-feiras. Desconhecia a palestra que a aguardava, mas estava certa de que seria um momento de alegria e descontração, um agradável contraponto à secura e ao enervante calor que se abatera sobre a cidade, nos últimos dias.
À chegada do prédio, foi recepcionada por três exuberantes ipês amarelos e um colibri de vestido cor-de-rosa, sempre munido de sua máquina fotográfica. Era Ana Paula, a coordenadora do grupo, flanando leve e gentil como sempre, o silencioso registro de tudo o que acontece ali.
Dirigiu-se logo à sala reservada e ficou surpresa ao encontrá-la ainda às escuras. Com a claridade vinda do corredor, pode divisar um vulto de mulher, notadamente, elegante, que a cumprimentou efusiva. Ousou acender a luz e confirmou o que já esperava: era Lúcia, sentada ali na penumbra, em sua postura, sempre muito ereta, reta e correta e que, no decorrer do evento, se revelaria uma grande intérprete.
Logo outras foram chegando. Fanny só pode vir, acompanhada de outra participante que lhe deu carona. Aldemita, enfrentando problemas de saúde do esposo que recentemente precisou submeter-se a uma cirurgia, em meio a uma longa e trabalhosa reforma, veio em busca de uma válvula de escape.
Carmen foi uma das grandes surpresas da tarde, festejada por todas as presentes, felizes por sua companhia sempre tão carismática. Mas, ela não podia mesmo faltar, já que foi dela a indicação da palestrante.
Inevitável lembrar-se da Conceição, que poderia estar ali. As imagens antológicas dessa que foi uma grande amiga de todas aquelas mulheres ali presentes foram surgindo, cada uma era capaz de repetir alguns de seus bordões. O mais famoso deles “este evento será imperdível!”. Ou, quando se referia ao grupo de mulheres como “este encontro que se repete há não sei quantos anos”. Sobre Ana Paula, a adorável anfitriã do grupo, Conceição costumava dizer que era seu braço direito, e também o esquerdo.
Carmen encerrou essa deliciosa criação coletiva, enaltecendo a presença de todas aquelas mulheres ali, com seus três quilos a mais (em referência a uma das crônicas lidas durante o encontro ) e até alguns quinze anos a mais que a palestrante.
Outras ideias surgiram, outras impressões foram levantadas, mas eu não consegui registrá-las todas, o que é mesmo uma pena.
Também, por uma questão de modéstia, censurei os milhares de elogios feitos à qualidade da referida palestrante (eu!!!). Ainda mais que todos foram feitos pela mamãe.
Brincadeiras à parte (mesmo porquê, mamãe nem estava lá!), só tenho mesmo que agradecer o convite e a oportunidade. Para mim, foi excelente estar entre essas pessoas maravilhosas, receptivas, participativas e animadas.
Que venham outros encontros!!