<> O PEDREIRO ETELVINO <>

Trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Esta era a rotina do Etelvino.

Pessoa humilde e que devido às poucas oportunidades, principalmente no que se refere a estudo, a vida lhe reservou a profissão de pedreiro.

Começou como servente e com esforço e dedicação, formou sua própria equipe e pode-se dizer que ele se transformou num micro empreiteiro.

A escola da vida o capacitou a construir –como dizem os vizinhos- uma casa do alicerce ao telhado.

Saía cedo para o batente e sempre retornava no mesmo horário. Não bebia e detestava as rodinhas de boteco. Curtia muito família e era um evangelico "fervoroso".

Sua fama de bom profissional corria longe. Ele entregava o serviço sempre dentro do prazo combinado, e além de caprichoso não era careiro.

Um belo dia pegou uma empreitada pra construir o muro do "hipódromo". Toda manhã a mesma rotina: “catava” de esquina em esquina, os nove peões e às 7 horas sua velha Kombi já estava na obra.

E foi ali, junto das "baias" que reparou quando um padre se aproximou de um cavalo e discretamente o benzeu com água benta.

Etelvino ficou intrigado com aquilo.

Na parte da tarde teve uma corrida e ele pôde observar que o vencedor foi exatamente o cavalo que o padre benzera.

Na manhã seguinte, olha o padre de novo! Etelvino ficou de butuca, acompanhando tudo. O padre benzeu outro cavalo e à tarde não deu outra, o cavalo “bento” ganhou. E foi assim no terceiro dia, e foi assim no quarto dia.

Etelvino cresceu o olho. E esquecendo as doutrinas evangélicas viu aí sua oportunidade de tirar o pé da lama e poder dar uma vida mais digna a família.

Na sexta feira ele levou todas as suas reservas, inclusive o vale dos peões, e ficou de olho no padre que chegou em seguida. O padre, vai pra lá, vem pra cá, até que estancou frente a um cavalinho, meio velho, meio capenga e fez a benzeção, até mais demorada.

Etelvino não teve dúvidas, foi no guichê e, contrariando a doutrina da sua Igreja, apostou tudo naquele pangaré.

Cinco horas da tarde.

Todos os cavalos perfilados para a largada.

Etelvino roía as unhas aflito. Quando foi dado o tiro de largada, não deu outra: O pangaré saltou na frente. Disparou e vai mantendo vantagem. Subitamente, em câmara lenta, desaba e estrebucha numa morte fulminante.

Etelvino se desespera a ponto de arrancar os cabelos. Nesse momento passa o padre e ele atraca ao seu braço e explica o ocorrido.

O Padre pergunta apenas se ele era católico.

- Sou evangélico, seu padre.

-Pois é, vocês evangélicos são incapazes de entender a diferença entre uma BENÇÃO e uma EXTREMA-UNÇÃO.

...Nesse dia, não houve vale.