UM SONHO A MAIS...
UM SONHO A MAIS...
"A Vida e o sonho são trens
num só trilho -- em disparada --
que se chocam se não tens
um desvio... na jornada".
(trova do Autor / 2001)
"Se você deseja o que nunca teve,
deve fazer o que jamais fez."
(citado por ANA MARIA BRAGA,
no "Mais Você", agosto/2012)
Meu sonho de virar cantor de rock é antigo, muito antigo, tem bem mais que 30 ANOS... esse é o tempo em que (sobre)vivo nessa por vezes ingrata Amazônia. Assisti ao fim de pelo menos 2 artistas amadores -- compositores criativos, músicos de admirável talento -- que partiram desta vida sem deixarem nada seu registrado em disco, ou ao menos numa reles fita. De "seu Botão" havia uma fita cassette feita com sacrifícios por um amigo meu, Antônio Olímpio Ferreira, que se abalou de Belém, em meados de 1984, e se meteu no mato cheio de "carapanãs" com um rádio-gravador, apenas para eternizar os xotes e carimbós de raiz do velhinho de mais de 70 anos, na época, tocando uma rabeca cujas cordas eram feitas de fios de cortinado.
Nas férias de 1988, no CENTUR de Belém, conheci o músico Almirzinho Gabriel, ao qual confiei a fita, já que eu não teria condições de sequer divulgar a modesta gravação nas Rádios e em outros locais da Capital. Quiz o Destino que o renomado artista, ao vender seu carro, "vendesse" também a fita cassette que, segundo êle, teria ficado dentro do toca-fitas. Quase na mesma época, promovendo artistas do meu bairro, conheci o exímio seresteiro Abiezér Silva, autor de mais de 200 composições, com o qual formei uma dupla meio sertaneja, entre 1990 e 92, em Belém.
Perdi tempo e paciência tentando convencer a Prefeitura/PMA a providenciar uma gravação da obra do compositor de cirandas, xotes, forrós, frevos, serestas e carimbós... tudo em vão! Com uma inflamação no umbigo -- "doença" não prevista no seu convênio médico -- Abiezér faleceu em dezembro de 2005 e nem seus 2 filhos se esforçam em lhe fazer um blog póstumo num site qualquer.
Agora, olho para mim como olhei para êles... artistas do povo "partindo" sem realizar seus sonhos, como o do reconhecimento de sua produção musical. A Internet/WEB é hoje o caminho mais prático, mais fácil... com uma reles webcam de 50-60 reais se faz uma gravação de qualidade sofrível, registro desesperado embora "herança" cultural, para quem nos conheceu um dia.
Quando o Faustão inaugurou sua "Garagem" (em maio/2009?!) tentei fazer um miniclip de 5 minutos, com a maquininha de um amigo, Davi Soares, sem muito sucesso. Minha primeira tentativa de conseguir uma filmadora nasceu após assistir no programa "Caldeirão do Huck" a doação de mais de 400 máquinas fotográficas digitais para seu auditório, em abril de 2011. Imediatamente, contactei a loja RICARDO ELETRO, para a qual pedi uma FILMADORA (na faixa dos 500 reais) e de quem recebi resposta, pedindo que aguardasse. Depois disso, silêncio total! Adiante, no programa da Ana Maria Braga ouvi comentários sobre "crowdfunding", espécie de "vaquinha" virtual destinada a ajudar artistas e quem precisar de dinheiro para realizar um sonho.
Dei azar... numa decisão burocrática a CATARSE entendia que as filmagens (de videoclips) que eu pretendia fazer não poderiam partir da COMPRA de um filmadora conseguida através do projeto. Tento "explicar": se eu contratasse caríssima empresa de videos para realizar meus clips não haveria problema algum, apenas não me era permitido COMPRAR A FILMADORA através do projeto. Curiosamente, havia um projeto de viagem de moto por meio Mundo, para FOTOGRAFAR paisagens, pessoas, cidades, etc, por 23 MIL REAIS ! Mesmo que o gajo tivesse a máquina (e a moto) ainda assim gastaria com materiais para ambos. Em quê meu projeto de mil e poucos reais era diferente disso?!
E terminou 2011 sem eu sair do lugar... chegou 2012, Ano do Dragão, ano da minha realização pessoal segundo horóscopos de todo tipo, FIM DO MUNDO de acordo com os maias. Decidi então que, antes que esta "bola azul" de injustiças e misérias acabe, eu terei a minha FILMADORA, custe o que custar ! Tentei conseguir 120 reais entre amigos e conhecidos aqui no bairro, em vão. O comércio local só entende patrocínio para eventos que envolvem as massas, futebol, bailes, bingos, "garotas molhadas", miss isso ou aquilo. Cultura... nem pensar!
Apelei para a Internet, perto de 30 amigos virtuais de Belém e adjacências. A proposta era tentadora: 2 sócios com 60 "paus" (epa!) cada um, com participação de 1/3 nos lucros que os videoclips me trariam, principalmente nas TVs, veja-se o exemplo recente do video caseiro 'Para nossa alegria".
Para minha tristeza... ou eu não tenho amigos verdadeiros ou estes não têm dinheiro, talvez as 2 coisas.
Agora a "tática" passa a ser outra: pedir a todos, indistintamente, apenas 3 REAIS! Com 40 altruístas, com cartão de crédito -- que até para se fazer caridade hoje em dia é preciso ter condições -- consigo adquirir a tão sonhada filmadora MIRAGE, por enquanto mera miragem. Você, que jamais apoiou um só artista (de pintura, música, teatro, etc) EM SUA VIDA insípida, poderia fazer parte de minha história e ganhar pelo menos um Agradecimento, quando eu me tornar famoso.
Eu disse... poderia?! Pois é, uma das empresas de pagamento virtual mais conhecidas, a PagSeguro/UOL, exige o número de um telefone fixo, na ficha de cadastro. Qualquer informação inverídica é passível de processo por falsidade ideológica, além da extinção do contrato. Eu, que nem celular tenho (outra exigência!), estou impedido de "abrir conta" na qual os amigos virtuais iriam me creditar os 3 reais mágicos.
Nesse país de ladrões, pobre sofre! Tivesse eu cartão de crédito poderia ter adquirido a filmadora em até 10 prestações, pagando 12 reais por mês. Pobre de marré de si, tenho que pagar à vista, via Boleto bancário... RE, a loja "que tem dono", jamais me explicou porque não posso pagar em 3 ou 4 vezes, via boleto.
"A LUTA CONTINUA... dolorosa, divertida!", me escreveu em 1987 mestre "Macaô", poeta capoeirista de Aracaju, infelizmente falecido. Nessa mesma época, registrei no Jornal de Ananindeua a idéia de que TODA PREFEITURA (no país inteiro) deveria produzir um disco (hoje CD) com os músicos locais, além de uma coletânea dos poetas, contistas e fotógrafos da cidade. Assim, cada prefeito eternizaria os artistas antigos e registraria o nascimento de novos. VINTE ANOS se passaram e Ananindeua não tem o registro OFICIAL de um só artista local.
Como declarei na época, "no Brasil há dinheiro para tudo... menos para a Cultura!". Ninguém me desmentiu até hoje, nem cidades, nem Estados, nem o MinC de uma Nação que só respira Política, politicagem nefasta, politicalha abjeta. Me pergunto porque precisamos de quase OITENTA MIL POLÍTICOS... trocados a cada 4-5 anos por outros ainda piores!
'NATO" AZEVEDO (escritor e poeta)
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ENTRE VALES E MONTES
I
Penso que a Vida parece
negra e imensa montanha...
Penso que a Vida parece
negra e imensa montanha...
para alguns serra aprazível,
para muitos
um penhasco intransponível.
(BIS)
Não quero ver findar
minha história
sem ter sentido
o gôsto doce da vitória!
Sei que é difícil sair do nada
e alcançar a maior glória !
I I
Entre vales e montes
a gente às vezes perde, às vezes ganha.
Não sei porquê... (me diga você!)
porque a gente tanto apanha.
Sonha, sofre, chora e crê
em tanta coisa estranha.
(Oh, baby,
nothing is right!
Oh, yeah...
that's my life!)
I I I
É preciso subir
todo dia um pouquinho...
escalar, sem desistir,
acompanhado ou sozinho.
Se ferindo, aqui e ali,
entre as pedras do Caminho.
IV
Eu continuo seguindo
apesar dos desenganos.
Me mantenho persistindo,
depois dos 60 anos.
Sei que a glória está vindo...
de acôrdo com meus planos !
"NATO" AZEVEDO
(escrito em 5/set. 2012)
OBS.: versão livre baseada no
blues "6.000 Milles" (Mercy Dee
Walton), de JESSE COLLIN
YOUNG, no LP "Together"/1972