CARA DE PAU

CARA DE PAU

Dizem que quando começamos a lembrar de fatos passados, é porque o presente não nos satisfaz...e porque estamos além do ponto médio da reta...Será? Bom não estou bem certa disso, mas que eu preferiria estar escrevendo um belo poema de amor, isso eu não posso negar.... Na falta de uma inspiração nesse sentido,vou tentar reproduzir aqui algo que me aconteceu há alguns...digo...muitos anos atrás, que também é parte do meu mosaico.

Tinha eu apenas dezoito aninhos de idade, quando resolvi que iria trabalhar.Ressalte-se que aquela época eu era estudante do curso de Direito, e era muito mais séria e compenetrada do que sou hoje(Duro ter que admitir isso).Bom mas também tinha lá o meu jeito irreverente e brincalhão de ser.

Iniciei essa minha nova etapa de vida em um “setor de pessoal”, onde teria que lidar com pessoas que só vestiam paletós e gravatas, não precisa dizer mais nada, ou precisa?

Iniciei as minhas atividades e a minha empatia com a minha chefe ( não não era tribo, mas tinha chefes) foi imediata.Ela tinha um jeito meio irreverente igual ao meu, que a fez me dar um livro de posse para assinar no meio de um enorme fúnebre e cinza corredor,em cima da perna(da minha é claro) quando o normal, quase ritual era assiná-lo frente a alguns paletós e gravatas.Estava eu “empossada”,youpe youpe hip urra!

Após o “grande evento” em clima de amenidades fui informada de que sempre que chegava alguém novo pra trabalhar naquele departamento, tinha essa pessoa que levar um lanche , uma torta(acho que na época se chamava bolo recheado).

Sem problemas, levaria a tal da merenda!Ah esqueci de falar que a minha chefe , também tinha uma chefe, que era a diretora do departamento.

Marcado o dia do lanche, lá estava eu com um bolo de dar água na boca, lindo de morrer(palavras da época, me perdoem as crianças), com bagaços de coco e cerejas em calda.Isso sem contar com aquele leite condensado disfarçado com cores apetitosas, que permeavam os pedacitos de chocolates espalhados por entre o coco e a cerejas.Claro que foi minha mãe quem ajudou na confecção do bolo.

Digno pois, de uma foto. De uma não, de muitas, muitas.Isso também não seria problemas, a diretora do departamento e por isso a mais abastada da turma tinha uma máquina fotográfica de última geração e traria para o segundo grande evento(esperava-se que o primeiro tivesse sido a posse).

Pediram-me que eu cortasse o primeiro pedaço, e eu falei que não levava jeito pra essas tarefas domésticas , além de ser muito tímida(as duas coisas eram verdadeiras, as duas).Passou-se a tarefa então para a minha chefe imediata,enquanto que os outros colegas , já não conseguiam disfarçar a sensação de “deixa disso e vamos logo a essa delícia”.

A minha chefe começou a cortar o bolo e percebeu-se nela um certo desconforto, ela olhava para um e para outro, como se estivesse tendo alguma dificuldade em realizar a aquela tarefa aparentemente simples, como se não tivesse força para fazê-lo.

Entre desolada e envergonhada, mas disfarçando, sem descer do salto transferiu a tarefa :”Chamo aqui a nossa diretora, que além de ter emprestado a máquina para fotografar essa delícia, é a responsável maior pelo departamento e portanto a ela devem ser atribuídas todas as honras.”

E lá se veio a Diretora, educadíssima, mas do meu time , do time das tímidas.Tentou em vão cortar o bolo,e... nada, nada... e o seu olhar de desolação era pior do que o da minha chefe.E não tive outra coisa pra fazer senão rir , rir e rir de novo...

Calma , já explico: é que o “bolo” era uma caixa de papelão com bagaços de coco afixado por cola tenaz(ainda existe?)e todos os ditos ingredientes por cima...(mas a minha mãe me ajudou mesmo..rsrs)

Mas fiquem tranqüilos não fui demitida. No dia seguinte levei outro bolo(desta vez real e saboroso) e hoje, as duas, não são mais minhas “chefes”, mas sim amigas queridíssimas... inclusive uma delas gostou tanto do meu “bolo” que reproduziu a façanha com outros personagens , e todos riem até hoje , morando no meu coração.Eu era um anjinho vocês não concordam?

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 14/09/2012
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