E o povo viu o rio passar
Um circo em uma cidade do interior atrai multidões por ser novidade. Um astro internacional atrai caravanas para seu show. O povo está cansado da rotina, quando aparece uma novidade, pronto! Aglomerações em volta do novo que atraem mais aglomerações, e quando menos se espera uma multidão assiste ao espetáculo, mesmo que esse espetáculo seja involuntário. É novo. É espetáculo, acredita o povo.
Quando chove no sertão baiano, o circo está montado, os atores prontos, a platéia atenta, é hora do espetáculo. De Serrinha para Conceição de Coité, a chuva caía e o rio enchia.
Como é novidade por aqui chuva forte e rio cheio, em cada ponte o povo se espremia para ver o rio passar. Da janela da casa a mãe grita para o filho: “sai da chuva Everaldino!”, contente o menino retruca: “o rio sangrou mãe, Coité tem um rio de verdade agora!”. Mais a frente uma senhora com voz rouca indaga para seu marido: “o que está fazendo na chuva Ambrozino?”, “to vendo o rio mulé!”, contente, responde o velho que há muito tempo não sabia o que era isso.
Por aqui, a ordem é aproveitar o novo. Quem é velho, mata a saudade do rio. Quem é novo, vê pela primeira vez um rio passar. Assim, de tempo em tempo o povo pára para ver o rio passar.