SENTI!!!!!!

SENTI!!!!!!

A melodia que tocava era a mesma de ontem.Os mesmos acordes, as mesmas notas... só dentro de mim ela vibrava em uma outra sintonia.Do ritmo lento transformara-se em rumba. E eu, atônita, não queria entender!

Esqueci o assunto e fui fazer a minha caminhada matinal, onde tudo também se fez diferente.

Ao acariciar as folhas das palmeiras , renunciei ao toque do deslizar leve das minhas mãos, que ali sempre sentiam o aveludado das delas.Então, as cumprimentei com um monossílabo qualquer, seco ,estudado e repetitivo, arrancado dos manuais de etiqueta de honrados executivos.

Notei ainda que antes, nunca houvera deixado pegadas no chão,que era rígido, acimentado, e agora...lá estavam os meus pés marcados pela força dos meus passos...

Divagando nessa loucura que é o pensar, voltei a uma das dinâmicas de grupo da qual participei no curso de teatro que faço(è, definitivamente as artes me seqüestraram, e tomara que ninguém e nada, paguem o resgate......).

O exercício proposto na dinâmica era enumerar coisas de que se gosta, se deseja, se necessita e se sente raiva.Até o penúltimo item eu tirei de letra,afinal sempre fui uma panela em ebulição de emoções que espalhava fumaça por todos os lados, após ter jogado propositalmente a tampa fora.

Mas aí, quando chegou a hora de dizer o que me deixava com raiva eu engasguei...Não sei se coloquei a tampa na panela ou se realmente não lembrava o que me enraivecia...

Várias situações vinham à minha mente para detectar a raiva, e nada...

E se eu fosse rejeitada, maltratada?Não, não seria raiva o que eu sentiria, sentiria tristeza...E se perdesse algo ou alguém importante?Também não...E se fosse enganada?Pasmem, mas costumo arranjar “desculpas” pra quem faz isso e ...de novo não sentir raiva!

Meu Deus! me ajude, o que me faria abrigar esse devastador e ao mesmo tempo libertador sentimento?Tinha que me lembrar de algo, afinal não era imune, e dele até tinha vaga lembrança...Com certeza em algum momento remoto já o tinha sentido...

O tempo estava passando e percebi que não seria atendida nas minhas preces e então saí com esta:”Tenho raiva de não ter raiva”.

Bom... para minha aula de teatro , tudo resolvido, afinal ali era um ambiente propício para se acatar as “esquisitices” individuais.

Mas... a minha caminhada continuava e a música do meu MP3 continuava a tocar em ritmo diferente do que tocara antes.As folhas das Palmeiras até reclamaram da ausência de um toque macio, e as minhas pegadas continuavam a marcar aquele chão de cimento frio...

De repente...com a rapidez de um cometa atrevido, uma lembrança:Uma frase doce,digo, vestida de açúcar que eu ouvi... Pronto, era raiva!!!!!!!!!!!!!,o que eu estava sentindo! Vá querer entender alma de poetisa...

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 13/09/2012
Reeditado em 13/09/2012
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