Bruxas à solta
O bacana de assistir a um filme pela segunda, terceira ou quantas vezes sentir vontade, é que você não precisa mais ficar tão ligado nos fatos e diálogos, pois já sabe o que vai acontecer e, praticamente, o que será dito. Sua mente pode brincar de entrar e sair da paisagem cinematográfica sem correr o risco de perder a parte crucial da história e deixá-lo boiando no final, junto com as letrinhas brancas do “casting” sobre a tela preta.
Além da paradinha para mexer a pipoca, pegar o guaraná e fazer xixi, você pode se ausentar da trama para bater um papinho básico com você mesmo. Foi o que fiz, enquanto assistia pela segunda ou terceira vez (perdi a conta) “As bruxas de Salém”, protagonizado pelos maravilhosos Daniel Day-Lewis e Winona Ryder.
O filme é baseado no episódio ocorrido, em outubro de 1962,na América do Norte, em que, por pura superstição, pessoas inocentes foram julgadas e condenadas à forca pelo crime de bruxaria no pequeno povoado de Salém, Massachusetts.
Enquanto pescoços eram pendurados em cordas, corpos arremessados no vácuo e pés dançavam no ar com a morte, falei para mim mesma que se tivesse nascido na Europa, entre os séculos XV a XVII, certamente teria sido caçada e (caso capturada) condenada à forca ou à fogueira.
Como espiritualista não duvido que isto tenha realmente acontecido numa encarnação anterior e que eu tenha sido sentenciada à fogueira, uma vez que reencarnei com a pele um tanto quanto “tostada” desta vez (brincadeirinhaaa!).
Contudo, a caça às bruxas não é mero enredo da dramaturgia, como alguns podem pensar. Mas sim, um impactante fato histórico marcado pela perseguição religiosa e social que teve início no século XV, perdurando até o século XVII. Durante três séculos ou mais, cerca de 50 mil pessoas foram executadas por crime de bruxaria, 75% mulheres.
Bastava ser diferente. Ter algum dom especial, dotes medicinais, mexer com ervas, curar ferimentos, servir de parteira, ter pensamento próprio, questionar crenças e posturas religiosas, seguir outra religião que não fosse católica, ou, simplesmente, acreditar num patuazinho qualquer de boa sorte, queimar incensos perfumados, dançar à noite na mata, de dia no quintal de casa... Enfim, se por estes últimos itens eu já estaria ferrada, imagina se admitisse, naquela época, que preferiria mil vezes utilizar a vassoura como meio de transporte do que de limpeza. Condenação na certa!
Quanto ao filme, deixa claro que além de fatores sensíveis e intuitivos inerentes à alma feminina, existe um sério desencadeante da faceta “bruxesca” da mulher: a paixão.
Já ouviu dizer que mulher apaixonada é um perigo? Pois acredite. A bonitinha do filme, a de carinha angelical e jeitinho indefeso (Winona, é claro), era a perversa da história. A que causou a morte de dezenas de pessoas.
E toda esta maldade, por quê? Porque o cara por quem ela se apaixonou, caiu de quatro e rolou no feno (Daniel, é lógico), rejeitou-a. Porque era casado, e não só se arrependeu da besteira que fez como lutou até o fim para defender a esposa, pois a bruxinha fez de tudo para enfiar um colar de corda no pescoço da rival.
Está sentindo um “déjà vu”? Não se espante, não é preciso ter vivido na idade média para testemunhar barbáries como esta.
Vou lhe contar um segredo. Não me pergunte como eu sei, mas sei. Existe até hoje, e acredito que sempre existirá, uma bruxa adormecida em cada mulher. Quando ela se apaixona a bruxa desperta. Se correspondida, será boa; se rejeitada, muito má!
Por isso, (e já que aboliram forcas e fogueiras), é prudente que se ande sempre com gravetos e fósforos na bolsa. Se é que vocês me entendem...
Quem não entendeu que assista ao filme... quantas vezes quiser.
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