Real desapego

Como você pode saber que é muito mais? Se, sempre lhe disseram para parar de sonhar, parar de buscar o que mais deseja para seguir o que a sociedade molda para você desde seu nascimento.

Meredith tem um sonho: ela quer pegar seus melhores ângulos. Todo dia ela fotografa o professor preso às grades. Suas mãos já estão cansadas e doloridas. A vermelhidão marca seu desejo de fuga. Mas quem, na verdade, se importa? Ele está aqui, mas ninguém o enxerga. Ele, sim, mais um ser invisível no meio de tantos.

“Por cem reais eu te faço um boquete! Só um vai, o que que custa? Seu prazer é o meu prazer!”. Ela repetiu tanto a frase: as palavras já saem livremente e sem significado, o que, na verdade nunca existiu. Erica busca na facilidade algo descartável.

Nos olhos de Henry toda sua história está sendo contada. Uma lágrima lhe atinge o rosto, trazendo à tona lembranças que lhe fazem tremer. A melancolia é tão forte, mas tão que as palavras não encontram lugar para o encaixe. Dói a ponto de fazê-lo esquecer por um minuto quem é.

Sua profissão é ensinar. Talvez a mais bela existente. Porém vista como a mais tola. Porque nessa confusão chamada de mundo, ninguém está realmente disposto a querer saber além. Os que sim sentem-se à beira do abismo, prontos para pularem a qualquer momento. Os sinais estão aí indicando sua concretização. Você não precisa ser um gênio para perceber. Basta olhar mais atentamente.

Tudo está ao contrário. A palavra “importar-se” é vista como “futilidade”, “inutilidade”.

O “eu” predomina tão severamente que eu, o escritor, tenho medo dos próximos movimentos dos “eus”. Tenho medo de não haver mais esperança. Tenho medo do seu medo. Tenho medo das palavras já não possuírem mais sentido, já que livros não fazem os olhos brilharem.

O escritor sente-se enclausurado dentro desse casulo contraditório que continua a girar. Já está de cabeça para baixo.

Quando, enfim...

Preciso de um ponto final, mas na verdade não sei como terminar algo em processo de...

Texto baseado no filme Detachment (Desapego).

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 13/09/2012
Reeditado em 08/07/2013
Código do texto: T3880040
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